sexta-feira, 26 de junho de 2009

Notícias-Fibroína de seda é base de biomateriais


POR LUIZ SUGIMOTO

Bicho-da-seda da espécie Bombyx mori (Foto: Antoninho Perri/ Divulgação)
Pesquisadores da Unicamp vêm obtendo resultados promissores no desenvolvimento de biomateriais com fi­broína de seda, que já começam a ser testados no Instituto do Co­ração (InCor) da USP para proteger válvulas cardíacas da calcificação, e na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) para a cultura de células e tecidos in vitro. A fibroína de seda ainda é pouco estudada na área de biomateriais, inclusive mundialmente, e motivou uma linha de pesquisa da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) que corre há apenas quatro anos.


Segundo a professora Marisa Aranha da espécie Nephila clavipes (Foto: Antoninho Perri)Masumi Beppu, da FEQ, a origem dos estudos que ela coordena está na necessidade de aumentar a vida útil e a eficácia das válvulas cardíacas, que geralmente são recortadas do pericárdio (tecido que reveste o coração) bovino ou suíno e implantadas assim, diretamente. “A maior causa de falhas nas válvulas é a calcificação. A idéia inicial do InCor era desenvolver um processo de secagem do material orgânico, permitindo seu armazenamento até o transplante, mas o resultado foi uma superfície extremamente rugosa que favorece a calcificação”.

Surgiu daí um projeto temático financiado pela Fapesp visando meios de recobrir o pericárdio com biopolíme­ros para protegê-lo da calcificação. Dele participam a Faculdade de Ci­ências Farmacêuticas da USP (com os professores Bronislaw Polakievicz e Ronaldo Pitombo), InCor, Unicamp e Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN). “Um biopolímero com propriedades mecânicas e químicas adequadas e que evite a rugosidade vai dar maior sobrevida à válvula cardíaca. Na FEQ, testamos também a quitosana, mas os estudos evoluíram com a fibroí­na de seda”.

Marisa Beppu orientou o primeiro es­tudo brasileiro focando a fibroína co­­mo biomaterial, no mestrado da pesquisadora Grinia Michelle Nogueira, que defendeu doutorado sobre o mesmo tema no início deste ano e agora faz o pós-doutorado no MIT (Massachusetts Institute of Technology, EUA). Suas pesquisas resultaram em patentes do método de isolamento da fibroína e de uma membrana de seda porosa junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi).

A docente da Unicamp explica que o fio de seda é composto por duas proteínas: a fibroína, responsável pela re­sistência mecânica, e a sericina, es­pécie de goma que faz a liga entre fios. Enquanto a literatura descreve pro­cessos demorados e complicados para produzir membranas de fibroína, Grinia Nogueira conseguiu reduzir o tempo de separação de quatro dias para meia hora, permitindo o uso do material em escala industrial, e sem recorrer a elementos tóxicos, o que assegura a biocompatibilidade.

Além da membrana de seda porosa, interessante por possibilitar a semea­dura de células em sua superfície, tam­bém foi produzida uma membrana densa – a que está em testes como cobertura das válvulas cardíacas de pericárdio animal. “Ainda não temos resultados conclusivos in vivo do InCor, que está avaliando a reação do material recobrindo implantes feitos em carneiros. O que posso afirmar é que os nossos ensaios in vitro indicaram uma diminuição expressiva da calcificação”.

No dia anterior a esta entrevista, Ma­risa Beppu recebeu mensagem dos pesquisadores da Unifesp informando que estavam iniciando os testes de crescimento celular sobre a membrana de seda porosa. É um trabalho que se dá no contexto do INCT – Institutos Na­cionais de Ciência e Tecnologia – em Biofabricação (Biofrabris), lançado recentemente pelo Ministério da Ci­ência e Tecnologia (MCT). “Eles ten­tarão semear células-tronco retiradas de adultos nos poros da membrana. A expectativa é grande em relação a es­se resultado”.

Da esq. pra dir., Raquel Farias Weska, Mariana Ferreira Silva e Mariana Agostini de Moraes: linha de pesquisa gera teses e dissertações (Foto: Antoninho Perri)A professora e sua equipe, futuramente, esperam produzir uma parede de coração ou uma pele, mas há dentistas no projeto interessados em fazer crescer, por exemplo, um dente, que pos­sui várias camadas de tecidos diferentes. “O que a engenharia tecidual busca hoje são os chamados scaffolds – matrizes tridimensionais cheias de poros para as células crescerem. O sonho de todo pesquisador da área é colocar este suporte com as células no interior de um pequeno biorreator e ver sair uma orelha ou nariz”, brinca.

Seguimento

Raquel Farias Weska, que está iniciando o doutorado, seguiu os passos de Grinia Nogueira e dedicou parte do seu mestrado ao estudo da reação das membranas de seda à esterilização. Um grande problema nos biopolímeros é que a maioria não tolera temperaturas acima de 60 graus. “As membranas passaram por cinco métodos de esterilização usados comumente e, basicamente, não ocorreu degradação; apenas uma mudança na conformação molecular da fibroína, o que pode ser uma característica interessante, dependendo da aplicação”.

As membranas resistiram inclusive à autoclavagem, processo em que o material é submetido a vapor com temperatura de 121ºC e que dura de 15 a 30 minutos – e, por isso, mais utilizada para a esterilização de instrumentos cirúrgicos. “Se colocarmos o pericárdio bovino ou suíno na autoclave, ele vai cozinhar, literalmente. As membranas de fribroína mostraram-se realmente versáteis”, observa a professora Marisa Beppu.

Na outra parte do mestrado concluído no início do ano, Raquel Weska estudou a deposição de fosfato de cálcio nas membranas densa e porosa, avaliando sua possível aplicação como biomaterial da parte óssea, posteriormente in vivo. “Agora, no doutorado, vou continuar pesquisando a fibroína de seda, provavelmente na área de scaffolds para engenharia tecidual”.

Blendas

A professora Marisa Masumi Beppu (acima), coordenadora das pesquisas: “Nossos ensaios in vitro indicaram uma diminuição expressiva da calcificação” (Foto: Antoninho PerriMariana Agostini de Moraes, também integrante do grupo de pesquisa, está começando o mestrado no propósito de misturar a fibroína com o alginato (extraído de algas), outro biopolímero que apresenta grande potencial para o crescimento de tecidos. “A mistura é uma tentativa de conjugar propriedades das duas proteínas. Já existem curativos comercializados com o alginato, devido à sua resposta bastante satisfatória na cicatrização de feridas, assim como a fibroína. Juntas, a resposta pode ser ainda melhor”.

Para produzir as blendas, Mariana Moraes vem misturando as soluções dissolvidas e, também, incorporando fios de fibroína à solução de alginato a fim de aprimorar a resistência mecânica. A associação da fibroína de seda com outros biopolímeros é uma área de pesquisa praticamente inédita e, de acordo com Marisa Beppu, os resultados têm sido animadores. “É possível chegar a um curativo com boa resistência e que contenha um princípio ativo que acelere a regeneração”.

Mariana Ferreira Silva, aluna de iniciação científica, vai cuidar de outro viés da linha de pesquisa mesclando a fibroína com plastificantes. O objetivo é aumentar a plasticidade da membrana de seda que, por ser densa, se rompe quando esticada. Com a propriedade de deformação que os plásticos possuem, a aplicação da fibroína de seda se tornaria mais interessante.

A professora Marisa Beppu atenta que estas pesquisas, em boa parte, ainda se limitam a desbravar as propriedades que a fibroína pode oferecer, resultando em material para testes in vitro ou in vivo em instituições parceiras. “Tudo isso nasceu em 2005, mas já notamos a boa repercussão em congressos no exterior. Acredito que logo teremos muitos pesquisadores se embrenhando nos componentes da seda”.

Aranhas

Em sua dissertação de mestrado, a pesquisadora Raquel Weska conta que as sedas produzidas pelo bicho-da-seda domesticado (Bombyx mori) e por aranhas do gênero Nephila, como a Nephila clavipes, são as mais estudadas no intuito de compreender o mecanismo de processamento e explorar as propriedades destas proteínas como biomaterial. Elas apresentam propriedades mecânicas surpreendentes, além de serem biocompatíveis e modificáveis quimicamente.

A professora Marisa Beppu trabalhava em uma multinacional da área química, quando a empresa tentou reproduzir a fibroína de aranha em laboratório. “Na época, só se falava em fibroína e suas propriedades. Imaginavam uma corda feita de teia, superresistente, mas acabaram desistindo porque é muito difícil replicar o que a aranha faz naturalmente: alinhar todas as moléculas de maneira a dar resistência mecânica ao material”.

Imagem microscópica : superfície da membrana porosa de fibroína de seda, que facilita o depósito e o crescimento de células (Foto: Divulgação)De qualquer forma, a natureza das aranhas inviabiliza seu confinamento e a extração de fibroína em escala. Já os fios do bicho-da-seda são utilizados comercialmente para suturas biomédicas há décadas, e na produção têxtil há séculos, graças a grandes safras da atividade que ganhou até denominação própria: a sericultura, facilitada pelo fato de que as larvas poderem ser mantidas em altas densidades.

Dados levantados por Raquel Weska apontam que a produção mundial de seda subiu de cerca de 100 mil toneladas em 2000 para 150 mil toneladas em 2008, sendo que a China responde por 70% do total. “Embora venha bem abaixo, o Brasil ocupa o segundo lugar, tendo o Paraná como maior produtor, seguido de São Paulo e Mato Grosso do Sul”.
Afora a área médica, a fibroína de seda está praticamente limitada à área têxtil, onde o consumo já havia caído consideravelmente quando o náilon invadiu o mercado. Entretanto, na opinião de Marisa Beppu, a baixa produção não seria um fator limitante, caso os biomateriais em estudo sejam viabilizados economicamente. “Certamente, surgiriam várias cooperativas voltadas a uma cultura relativamente simples, que pede basicamente as folhas da amoreira e as larvas”.

Em seu laboratório na FEQ, a docente recebe seda de uma cooperativa de Bastos (SP), mas afirma que as membranas de fibroína podem ser produzidas apenas com o que seria considerado como refugo do produto. “Se a indústria têxtil necessita de fios longos para a fiação, nós preferimos justamente as rebarbas para solubilizá-las e realizar os demais processos de laboratório ”.

fonte:Jornal da Unicamp-22 a 28 de Junho de 2009

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Notícias-Combustíveis fósseis podem matar oceanos


O verdadeiro perigo é invisível, impossível de fotografar, mas fácil de medir: é o aumento da acidez dos oceanos

Fernando Reinach é biólogo, professor titular do Instituto de Química da USP, diretor-executivo da Votorantim Novos Negócios e foi presidente da CTNBio em 1999. Artigo publicado em “O Estado de SP”:

Imagine que o homem nunca tivesse derramado uma gota de petróleo no oceano.

Apesar das fotos de pássaros embebidos em óleo serem as imagens que vêm à mente quando imaginamos o efeito disso, hoje sabemos que estes desastres ecológicos não são a maior ameaça.

O verdadeiro perigo é invisível, impossível de fotografar, mas fácil de medir: é o aumento da acidez dos oceanos.

Há décadas foi demonstrado que a queima de combustíveis fósseis provoca aumento de gás carbônico na atmosfera, mas faz somente poucos anos que os cientistas desconfiam que seu aumento pode estar também acidificando os oceanos.

A ciência por traz deste efeito é simples. Se você coloca em um copo de água gotas de fenolftaleína, ela se torna ligeiramente rósea (a fenolftaleína é um indicador de acidez que também era usado como laxante).

Aí você usa um canudo para assoprar na água fazendo bolhas. Aos pouco a água se torna incolor, indicando a acidificação da água.

O que acontece é que o gás carbônico (CO2) sai dos nossos pulmões, reage com a água e forma ácido carbônico, que acidifica a água e muda a cor da fenolftaleína. É isso que os cientistas acreditam estar acontecendo nos oceanos.

Desde que começamos a queimar petróleo, em 1850, a concentração de CO2 na atmosfera vem aumentado, e com isso mais CO2 se dissolve no mar e aumenta sua acidez.

Em 1800, o pH do mar era 8,16, hoje é de 8,05 e pode chegar a 7,9 no final do século. Isto significa que a acidez vai quase dobrar em 300 anos.

O que os cientistas investigam é como o aumento da acidez afeta os seres vivos que habitam os oceanos.

Provavelmente os mais afetados são os que têm carbonato de cálcio em seu esqueleto, como as conchas, os corais, os ouriços e outros seres microscópicos.

A razão é simples. Se você já examinou o interior de um tubo de água antigo deve ter observado que ao longo dos anos se acumula um precipitado branco.

É o carbonato de cálcio. Esta é uma das substâncias que estes animais utilizam em seus esqueletos. Para remover o carbonato do tubo basta lavar com uma mistura de água e vinagre, já que o carbonato é facilmente dissolvido no meio ácido criado pelo vinagre.

Os cientistas acreditam que a acidificação dos oceanos provoca um efeito parecido nos animais.

Mesmo um pequeno aumento da acidez pode dissolver parte dos esqueletos dos animais ou dificultar sua formação. Este fenômeno, ao longo dos séculos, pode levar à extinção uma grande parte da biodiversidade marinha.

Parece não haver dúvida de que a acidificação dos oceanos está ocorrendo, o que não se sabe é se o seu grau é suficiente para afetar a sobrevivência dos animais.

Os cientistas do Painel Internacional de Mudanças Climáticas sinalizaram que a acidificação dos oceanos é das suas principais preocupações.

Se você usa etanol em vez de gasolina, e cada vez que enche o tanque se satisfaz por combater o aquecimento, você tem um segundo motivo de satisfação: utilizando energias renováveis, você também ajuda a preservar os recifes de coral.

Mais informações em Sick Seas, na Nature, volume 442, página 978, de 2006

fonte:Jornal da ciência de 18 de Outubro de 2006.

Notícias:OCEANOS ÁCIDOS-A Nova Ameaça


Não é só na atmosfera que o dióxido de carbono é uma praga: nos oceanos, ele produz uma imparável acidificação que coloca em perigo imediato a ecologia marinha.

Contexto: o problema do aquecimento global leva os cientistas aos mares. Os oceanos representam dois terços da superfície do planeta e desempenham um papel capital no clima. Qual? É para o saber que foram criados vários projectos internacionais, nomeadamente o World Ocean Circulation Experiment (WOCE) e o Gobal Ocean Flux Study (JGOFS). Como chave, a criação de redes de medições para tomar o pulso aos oceanos. E estes estudos já revelaram um fenómeno inquietante: a acidificação oceânica, ligada às emissões de CO2 humanas.

Decididamente, o CO2 parece bem lançado para levar o prémio de pior dejecto humano. Comparando este gás que se liberta dos escapes dos nossos automóveis todos os dias, como chaminés de inumeráveis actividades industriais, com resíduos nucleares, cuja manipulação requer recursos gigantescos, o CO2 não rivaliza. Mas, reverso da medalha, não é tão simples assim. Mesmo não sendo tóxico, o CO2 não pára de se dispersar na atmosfera, a partir do momento em que se dá à chave para ligar o motor… com as catástrofes bem conhecidas por efeito.
Mas eis que o favorecer o aquecimento climático deixou de ser a única característica do CO2; hoje, aparece como portador duma nova e não menos colossal ameaça: a de tornar as águas dos oceanos mais ácidas. E esta acidificação anuncia-se como desastrosa para a cadeia ecológica marinha. É certo que a acidificação dos oceanos é conhecida há anos pelos geoquímicos. O mecanismo até é simples: tudo o que acontece é que a molécula de CO2, depois de sair do tubo de escape, da fábrica ou da central térmica, vai dar uma voltinha pela atmosfera, e acaba quase sempre a viagem num oceano. Porquê? Porque se dissolve facilmente, e o oceano é bem mais vasto que a atmosfera em numero de átomos. A tal ponto que conta com 37 000 gigatoneladas de carbono contra somente 800 gigatoneladas armazenadas no ar. Este número contabilizou a amplitude do fenómeno em Julho de 2004. Tendo intencionado esboçar a absorção do CO2 pelos oceanos, um vasto estudo internacional, pilotado pela NOAA (National Ocean and Atmosphere Administration), pôs em evidência os resultados impressionantes: 48% do dióxido de carbono emitidos pelo homem desde o inicio da era industrial (séc. XIX) está presente nos oceanos, seja 120 biliões de toneladas de carbono. Pior, esta acumulação continua ao ritmo de 25 milhões de toneladas de carbono… TODOS OS DIAS! E esta massa colossal, que há dois séculos estava encavernada nas entranhas do planeta, sob a forma de carvão, petróleo ou gás, está a modificar profundamente a química oceânica, como explica Carol Turley, biogeoquimica no Plymouth Marine Laboratory britânico, «o CO2 pode ser relativamente inerte (1) na atmosfera, mas torna-se altamente reactivo uma vez dissolvido na água salgada, tendo reacções químicas, físicas, biológicas e geológicas».

Esta metamorfose de Dr. Jekill atmosférico em Mr. Hyde aquoso dá origem a iões carbonados e bicarbonatos, com os quais o CO2 está em equilíbrio, e estes iões têm um papel próprio numa série de outras combinações. Além disso, a molécula de dióxido de carbono (CO2), no preciso momento em que se liga à água, liberta um protão (H+); ora, libertar um protão numa solução, a isto dá-se um nome: acidificar (ver calão). Eis porque é que o dióxido de carbono foi durante muito tempo chamado «ácido carbónico». E segundo os especialistas, os biliões de toneladas de CO2 despejados por nós desde a máquina a vapor alterou já o pH em 0,1 , o que representa um aumento de acidez de… 10%! Memória a trabalhar: um pH é neutro em 7, abaixo é ácido, e acima é base. E estamos no início, pois as previsões fazem temer que até 2100 o oceano se acidifique mais 0,4 unidades pH. É óbvio que isto não é suficiente para tornar o oceano ácido – o oceano é com efeito muito base devido à dissolução do calcário; mas, se tomarmos o exemplo do Mar do Norte, hoje cuidadosamente estudado pelos Britânicos, este passará de 8,3 hoje para 7,8 na escala de pH. Nunca visto nos últimos 25 milhões de anos! E, a mais longo prazo, no horizonte 2250, segundo os modelos, a queda atingiria o valor pH 0,7… Números tanto mais inquietantes que «a acidificação não é um sintoma do aquecimento; isto acontece a montante», explica Laurent Bopp, especialista do ciclo do carbono no laboratório de ciências do clima e do ambiente de Saclay, França. Que haja aquecimento ou não, ela continuará, enquanto as emissões de carbono continuarem. «Vamos certamente herdar um oceano diferente, confirma Peter Brewer, investigador no Monterey Bay Aquarium Research Institute na Califórnia. Já o é em larga medida em termos químicos. E biologicamente é provável que aconteça o mesmo».
De momento, prever os efeitos da acidificação sobre os seres vivos é um quebra-cabeças. Mas não há duvidas que os organismos que povoam os oceanos serão afectados. Para começar porque as concentrações de nutrimentos e a forma em que existem, estão dependentes do pH. O fosfato inorgânico, por exemplo, ou o amoníaco, veriam mergulhar as suas concentrações se as alterações se realizarem. Ora, a abundância e composição do plâncton estão estreitamente ligadas à presença de nutrimentos e à sua natureza. Que consequências podemos então esperar? Para já, ainda não temos conhecimentos necessários para formular uma hipótese verificável, mas vários projectos de estudo deverão permitir saber mais em breve.
Mais grave ainda é o caso dos organismos de esqueleto calcário. Pois os iões carbonados são utilizados por uma série de seres vivos, de uma extraordinária diversidade. Juntando os ditos carbonatos com cálcio (muito abundante no mar), estes organismos formam a calcite (CaCO3), um material omnipresente que se encontra tanto nos bivalves ou amêijoas como no esqueleto dos equinodermes como as estrelas-do-mar ou os ouriços, ou ainda em microscópicos organismos unicelulares. Ora, a acidez faz decair a quantidade de iões carbonatos disponíveis: para a duplicação do carbono atmosférico (prometido para 2050), a quantidade de iões carbonados é dividida por a meio. E assim, como vão reagir os seres dos oceanos?

Esqueletos anormais
«Experiências a simular estas condições mostraram casos de mobilidade reduzida, inibição de alimentação, crescimento reduzido, dificuldades respiratórias, sensibilidade acrescida às infecções, dissolução de carapaças, redução de populações e mortalidade acrescida», indica Carol Turley. Nada de espantar: ao negar um organismo a metade dos seus materiais de construção, como imaginar que produz mansões? «Assim que o pH se torna igual a 7, sublinha ainda a cientista, a mortalidade de alguns seres é de 100%!». Não é menos inquietante para o plâncton, já que constitui a base do ecossistema marinho.

Que seres vivos no futuro?
E ainda o zooplâncton, que se alimenta do plâncton vegetal. Também ele tem um papel biológico importante, para não falar no papel económico, pois é comido pelos peixes mais pequenos, que por sua vez servem de alimento às espécies comerciais com mais valor. Podemos por exemplo citar os moluscos microscópicos, os pterópodes, que estão na base da maior parte das cadeias alimentares do oceano austral, e desempenham um papel primordial na alimentação das baleias. Os pterópodes têm uma concha de aragonite, molécula parecida com a calcite mas um pouco mais solúvel. Ora, é mais ou menos certo que, até ao ano 2050, o oceano austral se tornará sub-saturado em aragonite. Dito de outra maneira, os fragmentos de aragonite que entrem em contacto com a água se dissolverão… Uma má noticia para os pterópodes, e também para os que se alimentam deles directa ou indirectamente, até aos albatrozes.

É então num contexto químico radicalmente novo que a fauna oceânica vai ter de aprender a viver.
O CO2 vai poder esterilizar o oceano? Com certeza que não. Como sublinha Ken Caldeira, «enquanto houver luz e nutrimentos, os seres vivos estarão lá para os explorar, que outros virão comer, etc.». Mas quais seres vivos, e com que consequências para a espécie humana? As pesquisas esforçam-se por tentar responder o mais brevemente possível. Quanto ao que seria necessário fazer, a resposta é infelizmente sem escapatória: reduzir as emissões de CO2. Até agora, é necessário constatar que não conseguimos. Com este novo elemento no dossier, será que é desta que abrimos o processo do nosso dejecto público nº 1?

O primeiro-ministro britânico Tony Blair tinha prometido levar o problema aquando do último G8, mas… as manobras politicas, indexadas ao preço do petróleo, levaram a umas quantas acções de propaganda, às quais se vieram juntar, para maior consolo de uns quantos tiranos, concertos e atentados.
Tudo para alegria e excitação dos animais marinhos…

Adaptado de Science et Vie nº 1054, Julho de 2005 por DM

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Notícias-Aquecimento global e acidificação dos oceanos


Pesquisa Norte Americana revela que a composição química dos oceanos já está sendo influenciada pelo constante aumento das emissões de CO2 na atmosfera. A baixo seguem trechos traduzidos da reportagem que saiu no MSNBC Interactive:

As águas do Oceano Pacífico ao longo da costa Norte Americana estão se tornando mais ácidas, ameaçando à vida marinha. Cientistas relatam que este cenário, vinculado ao aquecimento global, já era esperado, porém a expectativa era que não ocorresse tão cedo.

“Nós esperávamos que a acidificação do oceano ocorresse no meio ao fim do século” disse a co-autora do estudo Chris Sabine.

A acidificação descreve o processo, natural ou antrópico, no qual a água do ocenao torna-se corrosiva como resultado da absorção do dióxido de carbono presente na atmosfera. A mudança na química da água afeta a vida marinha particularmente organismos com estruturas de carbonatos de cálcio, como corais, moluscos, mexilhões e pequenas criaturas dos estágios iniciais da cadeia alimentar.

fonte:Blog Portal Brasil Ambiental,Sábado, 24 de Maio de 2008

terça-feira, 23 de junho de 2009

Artigo-Avaliação da contaminação por elementos metálicos dos sedimentos do Estuário Santos – São Vicente


Artigo que interessa muitos aos munícipes da Baixada Santista e aos oceanógrafos químicos e afins.

Marcos Antonio Hortellani; Jorge E. S. Sarkis-Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares(IPEN)

Denis M. S. Universidade Estadual Paulista-Campus Litoral Paulista

Eduinetty C. P. M. Sousa-Instituto Oceanográfico-Universidade de São Paulo

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-40422008000100003&lng=en&nrm=iso

Notícias-Cientistas alertam para a acidificação dos oceanos


Clima no mundo

O ano de 2009 será crucial para os esforços internacionais com relação às mudanças climáticas, culminando com a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP15), que ocorrerá entre os dias 7 e 18 de dezembro, em Copenhagen. Este encontro está agendado desde 2007, com o objetivo de apresentar respostas ambiciosas e efetivas para o enfrentamento das mudanças do clima.

A primeira rodada de negociações aconteceu em Bonn, no início de abril, e a segunda no início de junho. Estão previstos ainda três encontros preparatórios para Copenhagen: em Bonn no mês de agosto, em Bangkok no início de outubro e em Barcelona no início de novembro.

Um dos principais desafios das mudanças climáticas, a acidificação dos oceanos deve fazer parte da agenda da Conferência das Nações Unidas em Copenhagen, O fenômeno poderá causar a corrosão massiva dos recifes de corais e mudanças dramáticas na biodiversidade dos oceanos, com implicações para a produção de alimentos e o sustento de milhões de pessoas.

O aviso foi dado através de um documento assinado por 70 Academias de Ciências que são membros do InterAcademy Panel (IAP), entre elas a Academia Brasileira de Ciências, divulgado em 1º de junho último. O documento foi elaborado durante conferência em Bonn, realizada entre os dias 1º e 12 de junho, que deu forma às negociações de Copenhagen, onde se pretende chegar a um acordo sobre metas de redução de emissões de carbono.

O presidente da Royal Society, Martin Rees, afirmou que todos sabem que o aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera provoca mudanças climáticas. "Mas há outro efeito ambiental - a acidificação dos oceanos - que ainda não recebeu a atenção política devida. Se as emissões de CO2 não forem reduzidas em no mínimo 50% até 2050 e mais ainda daí para frente, poderemos enfrentar uma catástrofe submarina com mudanças irreversíveis na biodiversidade marinha. O efeito será sentido em todo o planeta, ameaçando a segurança alimentar, reduzindo a proteção costeira e danificando as economias locais que dificilmente tolerarão esta crise."

O Brasil foi representado pelo Professor Luiz Drude de Lacerda, do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC). Com graduação, mestrado e doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Drude é Professor Titular da Universidade Federal Fluminense (UFF), pesquisador 1-A do CNPq, onde já foi membro de diversos comitês, assim como da Capes, especialmente na área de Geociências. Atualmente coordena o Programa de Pós-Graduação em Ciências Marinhas Tropicais do Instituto de Ciências do Mar da UFC. Coordena também o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Transferência de Materiais Continente-Oceano (INCT-TMCOcean). É especialista na área de Ecologia, com ênfase em Biogeoquímica e contaminação ambiental.

Drude destacou que a acidificação, acentuada na superfície dos oceanos, afeta mais intensamente organismos significativos da base da cadeia alimentar marinha, portanto diretamente envolvidos na manutenção da produtividade dos oceanos. "Este é um efeito de consequências pouco compreendidas ainda, como a alteração do equilíbrio entre espécies químicas relacionadas diretamente à fenômenos oceanográficos", acrescentou o pesquisador. Ele deu como exemplos destes fenômenos a extensão da penetração de ondas sonoras nos oceanos, que afetam diretamente a navegação e o comportamento de muitos animais, particularmente mamíferos marinhos.

O documento conclama os líderes mundiais a reconhecer explicitamente as ameaças diretas causadas pelas emissões de CO2 aos oceanos e seu profundo impacto no meio ambiente e na sociedade. Enfatiza também á irreversibilidade da acidificação dos oceanos e sugere que, no ritmo atual das emissões, os recifes de corais e os ecossistemas polares serão seriamente afetados até 2050 ou mesmo anteriormente.

http://www.abc.org.br/IMG/pdf/doc-35.pdf

fonte:Academia Brasileira de Ciências-18/06/2009

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Artigo-Caracterização química de extratos de Ocimum basilicum L. obtidos através de extração com CO2 a altas pressões


Um artigo interessantíssimo sobre a extração com fluidos supercriticos(CO2).
Bem menos poluentes,porém de custo ainda elevado.


Marcio Mazutti; Bernardo Beledelli; Altemir José Mossi; Rogério Luís Cansian; Cláudio Dariva; José Vladimir de Oliveira; Natália Paroul

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-40422006000600010&script=sci_arttext&tlng=

Artigo-Citotoxicidade de ligas usadas como biomateriais


Artigo sobre biomateriais,um dos assuntos que mais me fascina

Sizue Ota Rogero; Mitiko Saiki;José Roberto Rogero; Isolda Costa-IPEN-CNEN/SP
Áurea Silveira Cruz; Rezolina Pereira Santos-INSTITUTO ADOLFO LUTZ-SP

http://pintassilgo2.ipen.br/biblioteca/2007/eventos/12377.pdf

Notícias-Estabilizar o câncer pode ser mais importante que curá-lo



por Brendan Borrell

Já pensou na possibilidade de, em vez de se tentar curar o câncer, apenas impedir o crescimento dos tumores? Foi exatamente isso que propôs Robert Gatenby, do Moffitt Cancer Center (MCC), num artigo na revista Nature, na ultima semana de maio.

Gatenby está convencido de que altas doses de quimioterapia prejudicam o sistema imunológico do paciente e estimulam o crescimento de novos tipos de câncer resistentes à quimioterapia, sem esperança de cura. Em vez de curar o câncer ele sugere que os médicos tentem estabilizar o tumor num tamanho tolerável.

Isso significa, na prática, a identificação, de um tamanho-alvo para o tumor, que permita ao paciente a melhor qualidade de vida possível. Após essa identificação, seu crescimento seria monitorado por aparelhos de diagnóstico por imagem, como o escaneador de ressonância magnética. Os médicos, então, regulariam as doses de drogas anticâncer para manter os tumores no tamanho prescrito.

Segundo Gatenby, fundador do programa de Oncologia Matemática do MCC, o paradigma frequentemente utilizado até agora para combater o câncer reproduz o processo de tratamento de infecções bacterianas, sempre procurando o “antibiótico” para matar a célula cancerígena. “A estratégia mais comum é a terapia com densidade com doses de alta densidade. Aplicar a maior dose possível no menor intervalo possível resume o tipo de terapia clássico, que faz com que todos adoeçam, ele observa”.

fonte:UOL-15/06/2009