quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Pesquisadores do IQUSP desenvolvem tecnologia de luminescência que pode, entre outros usos, dificultar falsificações


O Instituto de Química (IQ) da USP desenvolve uma pesquisa na área de foto e eletroluminescência em terras raras que pode, entre outros usos, criar marcadores óticos com diversas possibilidades de utilização. Entre elas, a criação de dispositivos anti-falsificação (de documentos, cédulas, remédios ou até equipamentos eletrônicos).

"Terras raras" é um grupo de 17 elementos químicos com características semelhantes. Alguns desses elementos, quando combinados com determinados compostos, podem se tornar fotoluminescentes - ou seja, adquirem a capacidade de "absorver" energia quando expostos à luz e emiti-la depois, quando não há mais exposição ou quando são expostos a raios UV com um comprimento de onda especifico.

Das terras raras, três são mais importantes para essa área: o térbio, que emite luz verde, o európio, da luz vermelha, e túlio, da luz azul. Os elementos já são bastante usados pela indústria principalmente por causa da pureza de suas cores, explica o professor Hermi Felinto de Brito, coordenador da pesquisa. As cores dos monitores de computador, por exemplos, são geradas assim.

No IQ, uma pequena quantidade das terras raras luminescentes é misturada a polímeros plásticos, em um processo chamado de "dopagem". Assim, o polímero adquire a característica de luminescência, mas sem perder suas propriedades originais, podendo ser usado normalmente. O principal uso desse plástico luminescente, segundo Brito, é como marcador ótico. Ele pode ser posto em uma cédula de dinheiro, por exemplo, e, com um equipamento adequado, como uma lâmpada UV, seria possível verificar a legitimidade da nota. Isso porque o polímero luminescente pode ser preparado de um jeito em que se escolhe precisamente qual cor ele deve emitir e sob que condições. "Produzir um material como esse é muito difícil. No Brasil não é fabricado comercialmente, e importar é muito caro. Isso torna complicado falsificar algo que use a tecnologia", relata Brito. O euro, moeda da União Europeia, usa um sistema parecido e, de acordo com Brito, há interesse do Banco Central em implantar os marcadores também no nosso real.

Há também outras possibilidades de uso dos luminescentes. Com a fabricação de uma tinta, é possível fazer com que placas de trânsito nas estradas brilhem durante a noite ou, no caso de construções, que sinalizações de emergência emitam luz durante uma queda da energia elétrica, por exemplo. Isso já é feito na Finlândia, em fase de testes, segundo o professor. Uma das maiores vantagens da luminescência oriunda das terras raras é justamente a chamada persistência luminosa - elas conseguem emitir luz por várias horas após o período de exposição.

Através de parcerias do IQ com outras unidades da USP como a Faculdade de Medicina (FMUSP) e o Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e mesmo com outras universidades e instituições (por redes de pesquisa como a Inami - Nanotecnologia para Marcadores Integrados) estão sendo desenvolvidos outras aplicações para a tecnologia. Em breve, deverá ser utilizada em exames médicos que podem diagnosticar leishmaniose, câncer de próstata e alteração no nível de colesterol LDL oxidado, um dos maiores causadores de problemas cardíacos.

Mais uma aplicação da luminescência de terras raras, mais longe de ser desenvolvida no Brasil, é em visores Oled (Organic Light-Emitting Diode), que deverão substituir os atuais LCD (Liquid Crystal Display), nas televisões e monitores. Nesse caso, ao invés de fotoluminescência, a emissão de luz se dá pelo processo de eletroluminescência - ou seja, ao invés da energia luminosa, os compostos absorvem energia elétrica para luminescer.

Teoria e prática
Para o professor Hermi Brito, o maior desafio da pesquisa é passar do estudo acadêmico para a aplicação prática, etapa a qual o laboratório está se dedicando agora. "Um professor de uma universidade, que trabalha na área acadêmica, só pensa em ciência, estrutura eletrônica, como sintetizar, fazer novos compostos… essa parte, que seria a mais difícil, pra gente é a mais fácil. Agora, a parte de aplicação depende de outras áreas, o que é muito bom, mas dá muito trabalho", cita.

Diz ainda que esse é um problema comum no Brasil. "Nós não temos a cultura da parte da aplicação, fica cada um em seu laboratório. Mas estamos indo bem, de 10 anos pra cá melhorou muito. Precisa é que se crie uma cultura, que os órgãos de fomento digam 'olha, tem que ter aplicação tecnológica, uma resposta social'", afirma o professor do IQ.

fonte:
http://www4.usp.br/index.php/tecnologia/19910-pesquisadores-do-iq-desenvolvem-tecnologia-de-luminescencia-que-pode-entre-outros-usos-dificultar-falsificacoes-


Site Prof°Dr° Felinto
http://www.iq.usp.br/wwwdocentes/hefbrito/HOMEx.html

terça-feira, 29 de junho de 2010

Unesp recebe R$ 25 milhões para implantação do Núcleo de Estudos Avançados do Mar


Unesp e Ministério da Ciência e Tecnologia assinam parceria para implantar infraestrutura de pesquisa no litoral paulista

A Universidade Estadual Paulista (Unesp) e o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) firmaram termo de compromisso para implantação da infraestrutura do Núcleo de Estudos Avançados do Mar, em São Vicente. A parceria prevê o aporte de R$ 25 milhões pelo MCT destinados exclusivamente para a aquisição de equipamentos para pesquisas. A camada pré-sal será um dos focos do núcleo, que terá outras cinco linhas de pesquisa principais: geologia, aquicultura, meio ambiente, recursos naturais e pesca.

O termo foi assinado na quinta-feira, 24, na sede da Prefeitura de São Vicente, com a presença do ministro interino Luiz Antonio Rodrigues Elias, do prefeito Tércio Garcia, do reitor Herman Jacobus Cornelis Voorwald e da pró-reitora de pesquisa Maria José Giannini, além de outras autoridades.

"A inauguração é uma medida extremamente significativa que eleva a capacidade do número de doutores, mestres e formandos dessa área", disse o ministro interino. Para o prefeito de São Vicente, a vinda de um centro de estudos voltado para o pré-sal coloca a cidade em destaque no Brasil e aponta para o futuro daquilo que o país precisa.

Os estudos do mar integram as metas do MCT para o desenvolvimento de áreas estratégicas relacionadas à exploração de hidrocarbonetos (petróleo, gás e carvão mineral, por exemplo). As recentes descobertas desses recursos em áreas do pré-sal (camada formada antes da faixa de sal depositada no fundo do mar), no litoral paulista, motivaram a universidade a propor um centro científico naquela região.

Após entendimento entre o reitor e o ministro Sérgio Rezende, em julho de 2009, a Pró-Reitoria de Pesquisa (Prope) elaborou o projeto. Em março, a prefeitura de São Vicente doou um terreno de aproximadamente cinco mil metros quadrados à universidade para a instalação do centro. O complexo envolverá 117 especialistas de todos os câmpus da Unesp.

"Jovens pesquisadores terão a oportunidade de se qualificar para atuar nos mais diversos segmentos que devem surgir a partir da exploração do pré-sal", destacou o reitor. Para Maria José, a instituição já tem um corpo científico forte nos temas que serão estudados no núcleo, mas esses pesquisadores atuam de forma dispersa. "O agrupamento dessas lideranças deve dar à Unesp e ao estado de São Paulo um protagonismo no setor", destacou a pró-reitora.

Aparato tecnológico

Alguns dos maquinários mais custosos que serão adquiridos para o núcleo com os recursos do MCT são os diferentes tipos de espectrômetros de massa. O instrumento pode, entre outras aplicações, analisar a densidade do petróleo bruto e detectar com precisão poluentes na água.

Os estudos em genômica se beneficiarão da aquisição de uma plataforma de análise genética, uma espécie de computador de alta capacidade que processa automaticamente informações contidas nos genes. Microscópios de força atômica, que conseguem distinguir átomos de diferentes elementos químicos, também serão de grande ajuda em pesquisas que envolvam nanotecnologia e microscopia.

Maria José prevê que o aparato tecnológico do núcleo atrairá estudiosos de alto nível entre alunos de graduação e pós, reunindo no mesmo lugar recursos humanos qualificados em várias áreas. O local oferecerá ainda suporte básico para a transferência de novas tecnologias à sociedade, além de ser um interlocutor entre a academia e empresas e órgãos estatais, como a Petrobrás, a Marinha Brasileira e o Ministério da Pesca e Aquicultura.

UNESPetro

Outra iniciativa da universidade para desenvolver pesquisas avançadas em geologia e meio ambiente é o UNESPetro (Centro de Pesquisas e Ensino em Geologia e Ciências Ambientais Aplicados ao Petróleo). A estrutura, criada em parceria com a Petrobrás, deve começar a funcionar em agosto no câmpus de Rio Claro. O órgão promoverá estudos relacionados às descobertas de reservas de hidrocarbonetos na bacia de Santos.

Para o diretor de Exploração e Produção da empresa, Guilherme Estrella, a Unesp possui em seus quadros 'expertise' em sistemas sedimentares. "Em associação a esse conhecimento, pretendemos que o Brasil seja uma referência científica no ramo."

Fonte: Unesp

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Divulgação-ASSINATURA DO CONVÊNIO DO INSTITUTO PRÉ-SAL ACONTECE NESTA QUINTA-FEIRA (24/06)


Scientia Vinces

Está confirmado,a Baixada Santista ganhará um instituto de "peso" na área das ciências do mar, ambientais, geológicas e quem sabe química natural.Virão 120 pesquisadores da Universidade Estadual Paulista(Unesp),todos consagrados em suas áreas do saber, onde pesquisarão neste novo espaço, previsto para 2012.

Parabéns Unesp!!!!!!!!!!



Compromisso será firmado entre o Ministério da Ciência e Tecnologia e a UNESP, às 15 horas, no Salão Nobre da Prefeitura

Para a liberação de recursos e a abertura do processo licitatório para o início das obras do Núcleo de Estudos Avançados do Mar: um olhar para o pré-sal, a assinatura do termo de compromisso entre o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e a Universidade do Estado de São Paulo – Unesp, acontece nesta quinta-feira (24/06), às 15 horas, no Salão Nobre da Prefeitura de São Vicente (Rua Frei Gaspar, 384, Centro). A solenidade contará com a presença do ministro interino Luiz Antonio Rodrigues Elias e do reitor da Unesp, Herman Jacobus Cornelis Voorwald; além do deputado federal Márcio França (PSB) e do senador Aloísio Mercadante, ambos idealizadores do projeto.
A instituição será um pólo acadêmico de estudos ligados à exploração de petróleo na camada do pré-sal, gás, logística portuária e de impactos socioeconômicos na Região. A iniciativa apresenta uma oportunidade na formação de gerações capacitadas e é importante para aquecer a economia de São Vicente. O intuito é transformar a Cidade em referência quando se trata de pesquisas em pré-sal.

Fonte:www.saovicente.sp.gov.br

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Grupo de Física Aplicada com Aceleradores usa física nuclear em benefício de áreas como medicina e arqueologia-USP


Camila Camilo / USP Online
camila.camilo@usp.br

Quando quem não é da área pensa em física, o que vem logo à memória são as aulas do colégio, com fórmulas e gráficos. Mas a disciplina é bem mais do que isso e mostra, através do trabalho desenvolvido pelo Grupo de Física Aplicada com Aceleradores do Instituto de Física (IF) da USP, seu potencial interdisciplinar em benefício da ciência. O trabalho do grupo consiste em usar métodos da física nuclear para testar objetos de outras ciências, identificando os elementos que os compõem e testando sua eficácia. Com trabalhos como esse, universos como obras de arte, odontologia, arqueologia, medicina, entre outros, mostram que têm mais a ver com a física do que se imagina.

Em virtude de uma demanda de pesquisadores de outras áreas que buscavam o IF para testar aquilo que produziam, na década de 1990, o instituto adquiriu um acelerador de partículas dedicado à análise de materiais. O grupo surgiu depois, em 2000, quando os professores Manfredo Harri Tabacniks, Márcia de Almeida Rizzutto e Nemitala Added, interessados em trabalhar com física nuclear em projetos de física aplicada, uniram forças para formar um espaço de colaboração entre pesquisadores. Atualmente, alunos de graduação e pós-graduação também participam do projeto.

O professor Manfredo explica como funciona o teste com aceleradores. Ele diz que o acelerador é como um taco de sinuca fornecendo energia para que um átomo entre em colisão com outro. Com o choque, cada elemento libera uma radiação exclusiva, uma espécie de "RG" do átomo, identificada pelos detectores que conseguem mostrar qual elemento está presente na amostra.

Atividades
No caso da arqueometria, uma das atividades do grupo, é possível, conjuntamente com outras áreas, identificar a legitimidade de obras de arte, descobrir qual sua origem e em que nível tecnológico estava a civilização que a produziu. Fernando Rodrigues, aluno de graduação e membro do grupo, exemplifica que, se antes para pintar o branco era utilizada uma tinta à base de chumbo, mais recentemente usa-se o titânio. Expondo a obra ao acelerador, é possível identificar o elemento presente na tinta. Assim, com o auxílio de outras informações, pode-se saber se o quadro é antigo ou recente, o que ajuda a verificar a autenticidade da obra.

A professora Márcia Rizzutto conta que o Museu do Louvre, na França, que usa a mesma tecnologia do IF, conseguiu descobrir a origem da estátua da deusa Ishtar, graças à identificação dos elementos-traço existentes no rubi da estátua. Elementos-traço são aqueles presentes em quantidades pequenas, e que, no caso do rubi, permitem identificar com precisão a mina de onde foi retirado.

É importante lembrar que as obras não são destruídas. Pelo contrário: não é preciso retirar amostras das peças. “Não precisamos fazer furinhos para pegar o material”, explica a professora Marcia. E, como a energia é controlada para que, diante da infinidade de átomos presente em um objeto, apenas alguns sejam excitados, as obras permanecem intactas.

O grupo também trabalha em conjunto com as ciências biológicas. O professor Nemitala cita a tese de doutorado de Jim Aburaya. Ela mostra que através da modificação de superfícies de titânio é possível construir próteses que se integrem mais rapidamente ao osso hospedeiro, como em próteses dentárias. A aluna Suene Bernardes dos Santos, que também faz parte do grupo, pesquisa elementos-traço presente no soro sanguíneo, relacionando a alteração de sua quantidade com a ocorrência de melanoma - colaborando com o diagnóstico precoce da doença.

Alunos
Outra atividade do grupo é o desenvolvimento de métodos e de instrumentação para melhorar a pesquisa e as análises atômico-nucleares de materiais. O graduando Fernando Rodrigues já participa há quatro anos e desenvolve um método que torna as técnicas de análise de amostras complexas mais confiáveis, o que facilita o trabalho de quem busca o IF.

Segundo a professora Márcia, cada vez mais cedo os alunos querem participar da pesquisa. Ela acredita que a universidade entende que o aprendizado não se restringe à sala de aula e fornece esta possibilidade através de programas como o Ensinar com Pesquisa.

O professor Nemitala conta que uma das façanhas do trabalho é a contribuição para criação de uma linguagem comum, para além das terminologias de cada área, o que promove benefícios para a ciência como um todo.

Para colidir os átomos e obter respostas são usados aparelhos complexos chamados aceleradores de partículas. O IF possui três: Pelletron, LAMFI (Laboratório para Análise de Materiais com Feixes Iônicos) e LIO (Laboratório de Implantação Iônica), que se diferenciam, basicamente, pelo tamanho e pela ordem de grandeza da energia que conseguem emitir. Assim, o potencial que cada um possui determina também qual será utilizado para que tipo de trabalho. O LIO, por exemplo, o menor entre eles, é usado para a modificação da superfície do titânio, ao passo que o Pelletron consegue testar radiação presente em dispositivos eletrônicos usados em satélites que, no espaço, estão permanentemente expostos a altas doses de radiação.

Mais informações sobre o Pelletron:http://www4.usp.br/index.php/ciencias/14494

Fonte:http://www4.usp.br/index.php/ciencias/18959-grupo-de-fisica-aplicada-com-aceleradores-usa-fisica-nuclear-em-beneficio-de-areas-como-medicina-e-arqueologia

quarta-feira, 12 de maio de 2010

IPEN-Ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, anuncia a liberação de R$ 50 milhões para o Reator Multipropósito Brasileiro – RMB

Foi anunciado pelo Ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, que foi aprovado pelo Conselho do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, a liberação de R$ 50 milhões necessários para a elaboração do projeto básico e licenciamento ambiental do Reator Multipropósito Brasileiro – RMB. O investimento total, distribuído pelos próximos seis anos, é de R$ 850 milhões.

A construção do RMB coloca o Brasil no caminho da autossuficiencia na produção de radiofármacos. A atual necessidade de importação desses produtos fundamentais para a medicina nuclear, deixa o país vulnerável, especialmente em momentos de crise de abastecimento como o que estamos vivendo desde que o Canadá, responsável por 40% do fornecimento mundial do molibdênio-99 (o mais importante radiofármaco), interrompeu suas atividades em função de um acidente em sua instalação.

É importante destacar que, por se tratar de uma questão de saúde, os países produtores atendem prioritariamente as suas demandas internas e somente o excedente de produção é comercializado. Além disso, a Medicina Nuclear é uma das especializações que mais crescem no mundo e todos os reatores comerciais têm idade avançada e estão próximos do encerramento da sua vida útil.

O reator brasileiro, por ser multipropósito, também contemplará outras áreas estratégicas que vão desde o teste de materiais para a construção de reatores de potência como Angra I e II ou de propulsão nuclear, até a produção de fontes radioativas para a saúde, indústria, agricultura e meio ambiente, passando pela criação de um Laboratório Nacional para atender a comunidade científica brasileira.

Fonte: https://www.ipen.br/sitio/?idc=7193

terça-feira, 27 de abril de 2010

Pesquisa abre perspectivas na busca de biomarcadores para transtorno bipolar-Unicamp


Análises de sangue revelam que proteína
é encontrada em menor nível em pacientes


MARIA ALICE DA CRUZ

O transtorno afetivo bipolar (TAB), doença do campo da psiquiatria, acomete de 1% a 3% da população mundial, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Um estudo desenvolvido durante doutorado da pesquisadora Alessandra Sussulini, do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, a partir de amostras de sangue de 50 indivíduos (25 pacientes, 25 controles) abre caminho na busca de possíveis biomarcadores para a doença ao conseguir diferenciar – com base na análise de proteínas, lipídios e metais – não somente pacientes com TAB de indivíduos-controle, mas, também, aqueles pacientes tratados com lítio daqueles tratados com outras drogas.

A partir da utilização de tecnologia de ponta empregando ressonância magnética nuclear de prótons e espectrometria de massas, disponível no IQ e na Alemanha, onde realizou parte do doutorado sanduíche, Alessandra revelou que a proteína apolipoproteína A-I, relacionada ao metabolismo de lipídios, é encontrada em menor nível em pacientes com transtorno bipolar e em proporção ainda menor naqueles que não utilizam o lítio, droga predominante no tratamento. O trabalho original, segundo a pesquisadora, abre novas perspectivas para o entendimento da patofisiologia do transtorno e para a busca de biomarcadores. De acordo com o orientador da tese no IQ, Marco Aurélio Zezzi Arruda, alguns lipídios e outros metabólitos já foram reportados em trabalho recentemente publicado no periódico Analytical Chemistry, referente à parte inicial da tese de Alessandra.

Orientada pelos professores Marco Aurélio Zezzi Arruda (Departamento de Química Analítica - IQ) e Cláudio Banzato (Faculdade de Ciências Médicas), na Unicamp, desenvolvida em colaboração com os professores Walter Stühmer (Instituto Max Planck de Medicina Experimental, Göttingen) e Sabine Becker (Centro de Pesquisas de Jülich), na Alemanha, e financiada pela Fapesp, Alessandra também observa, na tese, uma distinção nos perfis ionômicos ao comparar indivíduos do grupo controle e os pacientes com transtorno afetivo bipolar a partir das análises das amostras de soro. Ela acrescenta que os diferentes tratamentos (utilizando lítio ou não) também proporcionaram alterações no perfil ionômico das amostras.

Além da apolipoproteína A-I, a pesquisadora identificou diferenças entre os grupos de pacientes estudados também em relação à transtiretina e à alfa-1-antitripsina, que são proteínas de fase aguda. Ela explica que, ao comparar o comportamento dessas proteínas com o descrito na literatura para pacientes esquizofrênicos, observou-se que a transtiretina tem variação diferencial em seus níveis, nos dois casos. Quanto aos metais, a pesquisa levanta uma diferenciação em termos de metais ligados a proteínas de soro. Segundo ela, foram identificadas oito proteínas diferentes contendo metais ligados, destacando-se a apolipoproteína A-I, a transtiretina e a vitronectina, que haviam sido identificadas previamente nas análises proteômicas por apresentarem alterações em suas expressões.

“Ainda não podemos dizer que a apolipoproteína A-I seja um biomarcador definitivo. É necessário ser realizado um estudo com um maior número de amostras, mas é um potencial biomarcador a ser investigado em estudos futuros e mais avançados”, explica.

Qualidade de vida

Alessandra traz uma novidade para a literatura com uma pesquisa de ponta que teve origem numa preocupação pessoal de usar a química para contribuir com o avanço da medicina na busca de proporcionar melhor qualidade de vida a pessoas que convivem com a realidade do transtorno bipolar.

A convivência com pessoas que vivenciam o problema e o contato com as técnicas de espectrometria de massas foram a motivação para o desenvolvimento da pesquisa. Alessandra enfatiza que a doença não mobiliza apenas o paciente, mas todas as pessoas a sua volta. “É uma forma de aplicar o conhecimento desenvolvido na Universidade na sociedade”, declara.

Para o co-orientador Cláudio Banzato, do Departamento de Psiquiatria da FCM da Unicamp, a tese representa um estudo avançado, com resultados consistentes entre si e abre perspectivas de estudos para a elucidação dos mecanismos patofisiológicos do TAB, assim como compreensão do mecanismo de atuação das drogas utilizadas atualmente. “Mas estamos olhando bem de longe ainda. A Alessandra obteve resultados muito interessantes sobre o que acontece no nível molecular com esses pacientes. A esperança é que isso ilumine um pouco os futuros estudos e também nos faça entender melhor por qual via os remédios funcionam. Temos de estudar grupos maiores, com controles mais rigorosos para poder dizer até que ponto tais proteínas são candidatas a biomarcadores. Isso significa estudar inclusive pacientes antes de quaisquer tratamentos e discriminar melhor os diversos regimes medicamentosos”, explica Banzato.

As diferenças encontradas entre os pacientes no estudo, segundo o psiquiatra, são interessantes por darem pistas sobre possíveis mecanismos associados ao surgimento do transtorno ou ao tratamento. “Digamos que seja um passo inicial, modesto e ainda assim importante na direção de buscarmos futuros biomarcadores. Descobrimos algumas alterações que valem a pena investigar melhor”, enfatiza Banzato.


Banzato explica que o repertório terapêutico psiquiátrico para tratar o TAB inclui o lítio e outros estabilizadores de humor, que têm se apresentado eficientes no tratamento, porém, com diversos efeitos colaterais. O lítio, segundo o médico, além de utilizado para tratamento de episódios de mania e depressão, tem atuação na prevenção dos mesmos, sobretudo da mania.

A doença

De acordo com Banzato, a doença é um transtorno mental grave, muitas vezes incapacitante e se caracteriza por fases de depressão e fases de mania. Na fase de depressão, a pessoa apresenta tristeza e desânimo, incapacidade de sentir prazer nas atividades que antes apreciava, às vezes inclusive ideias de morte. E nas fases de mania (termo técnico da psiquiatria), o paciente experimenta exaltação do humor, expansividade, euforia ou irritabilidade, energia além do normal, podendo realizar gastos excessivos ou se expor de forma inadvertida a inúmeros riscos.

Muitas vezes, o paciente apresenta diversos episódios de depressão e é diagnosticado como tendo um transtorno depressivo recorrente. Mais adiante, por apresentar um episódio de mania, o diagnóstico é modificado para transtorno afetivo bipolar. Isso tem consequências importantes em termos da escolha de estratégias terapêuticas. O esperado, segundo ele, é que depois de uma fase a pessoa tenha uma recuperação e volte a seu nível de funcionamento normal. “Nem sempre isso acontece, mas esse é nosso objetivo.”

fonte:http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/abril2010/ju458_pag02.php

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Técnica antifraude é destaque em revista-Unicamp


Trabalhos desenvolvidos no Laboratório ThoMSon, do IQ, são publicados na Analyst

JEVERSON BARBIERI

O limite é a imaginação. Foi dessa maneira que o professor Marcos N. Eberlin, coordenador do Laboratório ThoMSon de Espectrometria de Massas, do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, referiu-se à técnica pioneira desenvolvida em seu laboratório, a Easy Ambient Sonic-spray Ionization (EASI), capaz de analisar quimicamente a superfície de quase todos os tipos de amostras utilizando a espectrometria de massa. Prova disso é que a conceituada revista Analyst, editada pela Royal Society of Chemistry, publicou em seu volume 135, de uma só vez, três trabalhos produzidos pelo ThoMSon, sendo um deles destaque de capa. Esse número representa 30% dos artigos publicados neste volume especialmente dedicado às técnicas ambientais, uma novidade em espectrometria de massas. Além disso, o Journal of Lipid Research, em sua edição de maio de 2010, trará, também como destaque de capa, outra importante pesquisa desenvolvida pela equipe do ThoMSon.

A espectrometria de massas é uma técnica bastante poderosa utilizada para caracterização de substâncias químicas porque desvenda a formulação ao nível molecular. A partir de uma mistura complexa, ela mostra quais são as moléculas presentes, qual a constituição e a fórmula química e, ainda, faz a quantificação de cada uma delas. Eberlin contou que, há 20 anos, era uma técnica difícil de ser feita porque exigia equipamentos de laboratório complexos e caros. Era necessário, segundo o coordenador, colocar a amostra sob alto vácuo e o tempo de análise era muito demorado, além do que a fonte de ionização era de difícil manipulação. “Com o passar do tempo houve um grande desenvolvimento dessa técnica, que culminou com a simplicidade e eficiência produzida no ThoMSon”, explicou.

Primeiro, porque as amostras saíram do alto vácuo e passaram a ser trabalhadas em condições ambientais. Além disso, não existe mais a necessidade do auxílio de calor, lasers, descargas elétricas e altas voltagens para criar os íons, elementos antes indispensáveis para a obtenção dos resultados desejados. A EASI usa basicamente nitrogênio ou ar comprimido, e nada mais. E hoje as análises são realizadas diretamente na matriz original.

Perícia

Batizada de “caça-fraude”, a EASI é capaz de estabelecer um perfil químico dos corantes das tintas, determinando seu grau de envelhecimento. Dessa maneira, é possível determinar também, em casos de cruzamentos de traços, qual foi feito antes e se foram feitos com a mesma caneta. A doutoranda Priscila Micaroni Lalli esclareceu que cada caneta tem uma composição específica de corantes. É possível, sem alterar fisicamente o documento, analisar a tinta diretamente da superfície e obter o perfil de cada caneta. Lalli afirmou ainda que a tinta da caneta começa a envelhecer a partir do momento que é depositada no papel. Elementos como oxigênio e luz provocam o aparecimento de produtos de degradação, determinantes da idade da tinta. Eberlin revelou que recentemente peritos chilenos estiveram em seu laboratório utilizando essa técnica para analisar assinaturas em documentos oficiais sob suspeita. Essa pesquisa valeu o destaque de capa da Analyst.

Outra pesquisa decorrente da EASI é referente à adaptação do efeito Venture – o ar sob alta pressão passa em dois vasos capilares criando um vácuo que succiona a solução – na fonte EASI para análise direta de amostras líquidas. As mestrandas Vanessa Gonçalves dos Santos e Thaís Regiane substituíram a bomba injetora de amostras da fonte, criando assim a técnica VEASI. A sucção de amostra pela pressão de gás permitiu analisar café, cachaça, cocaína, proteínas e petróleo diretamente da amostra líquida. Santos disse que essa técnica possibilita fazer análise de moléculas bem grandes como as proteínas sem usar solvente, utilizando apenas água pura acidificada. “Eliminamos a bomba e o solvente. O objetivo é levar a análise de massas para o campo, portanto, uma fonte mais simples e sem necessidade de energia elétrica facilita muito”, assegurou.

Regiane ressaltou que como se trata de uma inovação, foi preciso mostrar versatilidade. Foram feitas análises de diferentes polímeros, de amostras biológicas, além do acompanhamento em tempo real de reações orgânicas e, assim, foi possível interceptar os principais intermediários da reação. É fundamental, disse Regiane, conseguir desvendar o mecanismo das reações, pois dessa forma é possível modificar o meio reacional visando melhorar o rendimento do produto”, afirmou.

A caracterização de óleos comestíveis foi outro trabalho selecionado para compor a edição da Analyst. A doutoranda Rosineide Costa Simas, através de uma parceria com o professor Daniel Barreira Arellano, do Laboratório de Óleos e Gorduras da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), determinou em segundos, por meio de uma gota de óleo em um papel, um espectro de triacilglicerol. Por esse perfil é possível dizer se é óleo de soja, de oliva, de canola, de milho ou de algodão, extrapolando para óleos amazônicos como o cupuaçu, copaíba e murumuru. Ou seja, existe uma distribuição de triacilglicerol característico de cada óleo e com uma gota é possível dizer qual oleaginosa deu origem aquele óleo. Esse é, segundo Simas, o modo positivo da pesquisa.

Quando se parte para o modo negativo, é possível optar por fazer controle de qualidade. Todo óleo quando não passa por um processo de refino tem uma acidez natural chamada de acidez livre e, portanto, é possível monitorar o ácido graxo livre. Feita a análise de acidez, resolveu-se pegar o óleo e tentar acompanhar por EASI. “Conseguimos fazer uma regressão linear com 0,98 de correlação e um erro médio das replicatas de amostra de menos de 1% entre o resultado do método clássico e do método original. Tanto que estamos extrapolando essas quantificações para biodiesel e outras amostras”, exemplificou Simas.

Os estudos continuaram avançando e percebeu-se que havia uma mudança no espectro com o aparecimento de um íon diferente. Interpretando os resultados viu-se que era um produto de oxidação. Como essa pesquisa tem um ano e meio, começou a aparecer no óleo padrão um íon que não correspondia à sua composição: era um hidroperóxido, produto de oxidação. “A partir dessa informação, percebemos que é possível então monitorar a vida de prateleira dos óleos”, afirmou Simas.

Óvulos e embriões

Desenvolvida pela pós-doc Christina R. Ferreira em colaboração com a USP, Unifesp e a empresa In Vitro Brasil Ltda., a pesquisa que será capa do mês de maio de 2010 do Journal of Lipid Research descreve uma técnica inovadora que permite o estudo da composição lipídica de um único exemplar de óvulos e embriões intactos. O projeto, que tem bolsa de pós-doutorado da Fapesp, é de responsabilidade da doutora Christina R. Ferreira.

Técnicas anteriores exigiam a amostragem e a manipulação química de um pool de vários exemplares destas valiosas espécies, muitas vezes de difícil acesso para pesquisas. O conhecimento da composição lipídica de óvulos e embriões é de importância vital, pois interfere diretamente nos resultados de sua criopreservação e viabilidade de seu desenvolvimento. Foram avaliados óvulos e embriões de humanos (inviáveis), de bovinos e outras espécies de interesse. A aplicação desta nova técnica de espectrometria de massas a um único exemplar intacto de óvulo ou embrião deverá ser útil em diversos estudos de biotecnologia no país e no exterior, principalmente em reproduções in vitro.

Outras aplicações

Eduardo Costa de Figueiredo e Gustavo Braga Sanvido, em colaboração com o professor Marco Aurélio Zezzi Arruda, também do IQ, desenvolveram uma técnica de extração rápida. Trata-se de um polímero “inteligente” que possui um molde de uma molécula alvo. A simples colocação desse polímero em matrizes complexas como sangue ou urina é capaz de “pescar” a molécula de interesse. O polímero é então retirado e lavado em água para retirar o excesso de sal e proteínas. Colocado na fonte EASI, recebe um fluxo de metanol e a partir daí surge o sinal analítico no espectrômetro de massas. Uma aplicação importante dessa técnica é encontrar sinais de consumo de drogas na urina humana.

Motivada pela necessidade do Inmetro de certificar o mogno brasileiro, Rosineide Simas testou a técnica VEASI. Alguns comerciantes de madeira, de acordo com a doutoranda, maqueiam madeiras com veios parecidos ao mogno, utilizando corantes. A colaboração da colega Elaine Cabral, aluna da USP e co-orientada de Eberlim, cujo pai e irmão são marceneiros, foi muito importante. Ele forneceu várias espécies de madeira (mogno, peroba e cedro, entre elas) que possibilitaram, através de uma pequena amostra, caracterizar íons que funcionam como marcadores naturais. Para o falso mogno, o corante produz sinais muito diferentes. “Através da VEASI, o mogno apresenta uma assinatura química única. O Inmetro se apaixonou pela técnica”, disse Simas.

Pesquisadora do Instituto Nacional de Tecnologia (RJ) e visitante no ThoMSon, a química Simone Carvalho Chiapetta desenvolve, na companhia da mestranda Adriana Teixeira Godoy, pesquisa para controle do tabaco. Chiapetta explicou que foi procurada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), uma vez que no Brasil, na América Latina e no Caribe não existem laboratórios capacitados para exercer um controle mais efetivo nesse mercado que é fortemente influenciado pelas indústrias de tabaco. A Organização Mundial da Saúde (OMS) cobra essa implantação.
A pesquisa sobre os contaminantes e os aditivos colocados nos cigarros para facilitar um consumo cada vez maior tem como objetivo principal dificultar a introdução desses elementos na composição do cigarro e, dessa maneira, fazer com que as pessoas tenham prazer em parar de fumar. Ademais, a EASI pode quantificar realmente os níveis de nicotina e dos constituintes do alcatrão presentes no tabaco. Pode ainda determinar também se um cigarro é verdadeiro ou falso.

Chiapetta disse ainda que, quando se trabalha com grandes empresas, que declaram a composição, é mais tranqüilo porque é possível verificar se os dados batem ou não com os obtidos através da EASI. “Quando se trabalha com outras empresas, cujo conteúdo é fechado, você tem que descobrir a composição, e a gente está falando de uma infinidade de marcas que entram pelas fronteiras brasileiras. Tem de tudo, só no preparo de amostras a gente viu uma diferença absurda. Os falsificados são mais nocivos. Só pela visual de extração da amostra já é assustador”, concluiu.

fonte:http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/abril2010/ju458_pag04.php#

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Menor e mais eficiente


Nova formulação de fármaco contra Aids pode facilitar o tratamento para crianças e idosos
Foto:Grânulos formados por aglomerados de microesferas de quitosana contendo o fármaco didanosina


Yuri VasconcelosEdição Impressa 167 - Janeiro 2010

No lugar de um comprimido grande e difícil de engolir, alguns grânulos bem menores contendo o mesmo fármaco encapsulado em microesferas. Essa foi a saída tecnológica de um grupo de pesquisadores da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A solução poderá tornar mais eficiente o tratamento de Aids no país, principalmente entre pacientes idosos e crianças. Trata-se de uma formulação farmacêutica inédita do fármaco didanosina (DDI), largamente usado no combate à doença. O novo produto ainda em estágio experimental é formado por bolinhas de um milímetro (mm) de diâmetro com capacidade de aderir à mucosa do intestino. Elas são compostas de um aglomerado com centenas de microesferas de quitosana, um polímero natural obtido a partir do esqueleto de crustáceos como camarão, caranguejo e lagosta. Dentro dessas microesferas encontra-se encapsulado o fármaco antirretroviral didanosina.

A nova forma farmacêutica e o seu processo de produção já renderam ao grupo de pesquisadores um pedido de patente, depositado em 2007 no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) com validade no exterior via Tratado para Cooperação em Patentes (PCT na sigla em inglês). A próxima etapa do estudo, de acordo com a engenheira química Maria Helena Andrade Santana, professora que coordenou os trabalhos, deverá ser a realização de testes em humanos, última etapa antes de o produto estar pronto para ser comercializado. A didanosina, um fármaco fabricado por laboratórios farmacêuticos nacionais, faz parte do coquetel antirretroviral administrado a pacientes com infecção em estágio avançado pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Sua função é inibir a replicação do HIV. Tomado por via oral, na forma de comprimidos distribuídos pelo SUS, o medicamento apresenta o inconveniente de ser grande demais, em torno de um centímetro, o que dificulta a ingestão por crianças e idosos, prejudicando a adesão ao tratamento. A fim de prevenir que seja degradado quando exposto ao pH ácido do estômago, o fármaco é administrado em comprimidos tamponados, que contêm substâncias, como o hidróxido de magnésio, que lhe conferem essa proteção. O uso do tampão aumenta expressivamente seu tamanho, tornando difícil sua deglutição. Quebrar o comprimido, por sua vez, pode causar a desativação do fármaco, que deve chegar intacto ao intestino, onde será absorvido pelo organismo.

As principais vantagens do produto desenvolvido no Laboratório de Desenvolvimento de Processos Biotecnológicos da FEQ-Unicamp são a redução do tamanho do medicamento, a adesão à parede do intestino e a liberação gradativa do fármaco. “O medicamento que nosso grupo desenvolveu é um grânulo que, em vez de ser composto pelas moléculas livres dos ingredientes, contém embutidos na sua matriz esferas micrométricas (dois micrômetros) de quitosana com a didanosina encapsulada no seu interior”, explica Maria Helena. “O nosso produto é fácil de deglutir e, para que o paciente ajuste a dose, no lugar de quebrá-lo, basta contar o número de grânulos a serem ingeridos. Isso facilita a terapia para crianças e idosos.” Segundo ela, já existe um antirretroviral à base de didanosina revestido com polímero gastrorresistente que assegura a proteção do fármaco. Acontece que ele não pode ser partido – por exemplo, para fracionar a dose do remédio – porque quando isso ocorre as arestas criadas ficam desprotegidas. “Esses grânulos são caros e importados e são distribuídos restritamente na rede pública para pacientes com HIV-Aids.”

Uma vantagem adicional da nova formulação, cuja pesquisa integrou o doutorado do engenheiro químico Classius Ferreira da Silva, e o mestrado da farmacêutica Patrícia Severino, ambos na FEQ, é a liberação gradual e controlada da didanosina, o que aumenta a eficiência de absorção do fármaco pela mucosa do intestino e torna o tratamento mais eficaz. “Nossos grânulos são capazes de encapsular e liberar de modo mais lento e controlado o composto ativo do medicamento”, diz Maria Helena. Resultados experimentais a partir de ensaios com cachorros mostraram que a liberação da didanosina ocorreu num período longo, de 36 horas, e que a quantidade de fármaco absorvida pelo organismo neste tempo é o dobro quando comparado com os comprimidos convencionais e grânulos comerciais. Os autores do estudo destacam, ainda, que os grânulos de quitosana podem ser revestidos com polímeros gastrorresistentes, de forma a protegerem a atividade de compostos ativos sensíveis ao pH do estômago.

Outro diferencial da patente é o processo de fabricação da formulação. Durante os estudos em laboratório, a produção avançou em relação às suas variáveis operacionais, tornando-a passível de escalonamento e de aplicação no setor industrial. O processo envolve tanto a produção das micropartículas que encapsulam o fármaco como os grânulos mucoadesivos. Inicialmente, o composto ativo é encapsulado em micropartículas de quitosana, em dispersão aquosa. Em seguida, essas partículas são separadas por centrifugação e removido o meio aquoso. As partículas úmidas são secas e a própria quitosana é adicionada à massa para produção dos grânulos.

Liberação gradual – Um estudo de farmacocinética, que é o tempo de permanência da droga na corrente sanguínea, desses grânulos foi realizado durante o mestrado de Patrícia Severino com apoio da professora Teresa Dalla Costa, da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e mostrou a superioridade dos grânulos em relação ao comprimido revestido comercial. “Com isso será possível reduzir a frequência de administração do fármaco e, provavelmente, a dose”, diz Maria Helena. Segundo a pesquisado­ra, em função da associação de suas três propriedades – proteção do fármaco ou ingrediente ativo, liberação gradual e direcionamento específico para a mucosa intestinal –, esses grânulos poderão ser usados para outras aplicações nas áreas farmacêutica, médica e veterinária, além da produção do medicamento antirretroviral.

A etapa final de desenvolvimento do novo medicamento, essencial para sua comercialização, depende do estabelecimento de uma parceria com uma indústria farmacêutica que se encarregue da realização dos ensaios clínicos em humanos, complexos e principalmente caros para serem realizados no âmbito da universidade. “Repassar a tecnologia para uma empresa interessada é a nossa ideia, mas ainda não temos negociações em andamento”, diz Maria Helena.

O projeto

Caracterização do revestimento polimérico e farmacocinética in vivo de grânulos contendo micropartículas de quitosana incorporando didanosina

Modalidade

Auxílio Regular a Projeto de Pesquisa

Co­or­denadora

Maria Helena Andrade Santana – Unicamp

Investimento

R$ 57.632,50 (FAPESP)


Fonte:http://revistapesquisa.fapesp.br/?art=4038&bd=1&pg=1&lg=

domingo, 18 de abril de 2010

Pesquisas desvendam funções de proteínas presentes em venenos de cobras


ISABEL GARDENAL

É sabido que o veneno de serpentes é uma mistura complexa de componentes orgânicos e inorgânicos. Duas pesquisas de doutorado, concebidas no Instituto de Biologia (IB) e no Instituto de Química (IQ) da Unicamp, chegaram a algumas revelações sobre proteínas presentes no veneno da jararaca e da cascavel, as quais poderão ter diversas aplicações. Estes estudos, ainda que preliminares, já fornecem um panorama para o entendimento de algumas funções, com a caracterização de proteínas que podem levar inclusive ao desenvolvimento de fármacos.

A pesquisa do IB, por exemplo, encontrou nas proteínas fosfolipases A2 uma possível aplicação de compostos polifenólicos de plantas sobre a ação tóxica do veneno da cascavel. O trabalho apontou que essas fosfolipases, submetidas ao tratamento com compostos naturais derivados de cumarinas, reduziram o seu efeito inflamatório, a agregação plaquetária, a miotoxidade, a citotoxicidade e a neurotoxicidade. Sua autora vislumbra o emprego de compostos polifenólicos sintéticos em ações biológicas para que os efeitos medicamentosos possam ser melhor explorados.

Por outro lado, a pesquisa do IQ chegou à caracterização da proteína BJ8 pela técnica da cristalografia. Esta proteína demonstrou uma capacidade incomum de conduzir à agregação plaquetária, ou seja, à coagulação sanguínea. No estudo, o veneno da cascavel mostrou um efeito neurotóxico e da jararaca hemorrágico, o que permite fazer um prognóstico: uma futura aplicação terapêutica nos problemas de distúrbios neurológicos e de coagulação. Além disso, pela primeira vez observou-se uma molécula de um lisofosfolipídeo presa à proteína, indicando um novo papel como carregador de moléculas.

Ambos os trabalhos se entrelaçam não somente por fazerem abordagem a partir do veneno de serpentes, atuando como pesquisa básica, mas também porque confirmam a necessidade cada vez maior de realizar estudos colaborativos, envolvendo diferentes institutos e diferentes instituições, sem falar no uso de técnicas destacadas como a cristalografia que impulsionam ainda outros estudos.


Estudos abrem perspectiva
para a produção de fármacos


Um passo que pode colaborar para o desenvolvimento futuro de novos fármacos que tenham ação neurológica e na coagulação sanguínea foi dado pelo químico Marcelo Leite dos Santos. Estudando o veneno de serpentes da fauna brasileira em sua tese de doutorado, defendida no Instituto de Química (IQ) e orientada pelo professor Ricardo Aparicio, o doutorando resolveu a estrutura de importantes proteínas por meio da Cristalografia por Difração de Raios X, uma das técnicas mais difundidas para a caracterização de macromoléculas que permite avaliar a forma da proteína e a organização espacial dos aminoácidos que a compõem. Santos conseguiu, por exemplo, caracterizar a BJVIII, uma proteína que tem potencial para levar à coagulação sanguínea.

Os dois principais resultados da pesquisa foram obtidos a partir da proteína extraída e purificada do veneno da serpente Bothrops jararacussu, popularmente conhecida como jararaca, e da serpente Crotalus durissus cascavella, a cascavel. Caracterizando a proteína BJVIII do veneno da Bothrops jararacussu, Santos deteve-se na sua incomum capacidade de agregação plaquetária (coagulação sanguínea), o que não era esperado para essa classe de proteínas em experimentos de bioquímica.

Entender a estrutura da proteína, expõe Aparicio, ajuda a avaliar as razões que podem explicar o seu funcionamento. O veneno, no caso, não é constituído somente por proteínas. Envolve uma complexa mistura de componentes. A serpente injeta este verdadeiro “coquetel” de constituintes orgânicos e inorgânicos na vítima, causando profundos danos aos tecidos, com iminência de necrose e mesmo de morte. Dentre os principais componentes do veneno estão as enzimas fosfolipases A2 que, em contato com os tecidos do organismo, provocam uma série de reações. Uma delas consiste em induzir coagulação sanguínea na vítima, fato que motivou esta investigação, pois esta atividade biológica não estava de todo esclarecida no caso da BJVIII.

O trabalho foi guiado com a proteína já separada das demais, após ter sido isolada do veneno. Esta purificação da proteína de interesse foi feita graças à colaboração do biólogo Fábio Henrique Ramos Fagundes, aluno de doutorado orientado pelo professor da Unesp Marcos Hikari Toyama, que mantém uma parceria com o Instituto de Biologia (IB) da Unicamp.

Toyama e Fagundes trabalharam tentando entender por que isso acontecia, lançando mão de alguns tipos de técnica. O grupo do IQ dedicou-se à parte da estrutura para chegar aos indícios de “como” isso ocorre. A parte de estudo do veneno das serpentes, diz Fagundes, foi bem fundamentada, sobretudo após observar-se que alguns efeitos poderiam ser usados com fins terapêuticos. Exemplo disso reflete o captopril, um hipotensivo usado comercialmente e que é sintetizado artificialmente com alterações. Antigamente, o captopril era extraído do veneno de serpentes para atuar como fármaco. “Hoje, estudamos as inúmeras proteínas do veneno e seus efeitos, tanto proteínas ligadas à neurotoxicidade quanto aquelas que causam hemorragia e mesmo as que acabam levando à coagulação sanguínea, como é o caso da BJVIII”, expressa Santos.

Efeitos adversos

Os venenos de cascavéis são conhecidos como crotálicos e os de jararacas como botrópicos, e diferem significativamente por provocar reações muito distintas na vítima. Os sinais e sintomas de uma pessoa envenenada por uma cascavel são díspares de outra que foi envenenada pela jararaca. No caso do veneno da cascavel, o efeito principal é neurotóxico, sendo o sintoma mais notório a pálpebra caída. A vítima está exposta ainda ao risco de sofrer uma parada respiratória, visto que o veneno bloqueia o sinal que deveria ir para a parte muscular. Normalmente, a pessoa morre por asfixia, ao serem bloqueados os impulsos nervosos que seguem para os músculos da respiração.

Santos, por outro lado, explica que o veneno da Bothrops jararacussu possui um efeito hemorrágico. Assim sendo, a vítima acaba tendo uma necrose de tecido, destruição do músculo e hemorragia, que às vezes leva à morte. “A vítima pode ainda apresentar perda de membros”, informa Santos. No caso específico deste veneno, existe uma fração proteica que tem um efeito que causa a hemorragia e uma outra fração que causa a coagulação sanguínea. “São efeitos opostos provocados por duas proteínas muito parecidas em sua sequência de aminoácidos.”

Avaliando tais efeitos biológicos, Santos se interessou por desvendar o porquê de uma proteína ocasionar coagulação sanguínea e inferiu que ela poderia apontar para alguma terapêutica relacionada a problemas de coagulação sanguínea. Para ele, esta seria uma visão prática para ancorar melhor a compreensão do mecanismo de funcionamento destas proteínas.

No caso da fosfalipase A2 de cascavel, conforme Santos, foi avaliado o efeito do tratamento químico com um produto natural chamado naringina, um flavonoide amplamente encontrado nos citrus. Com este produto, alterava-se a estrutura dessa proteína e a sua função também, percebendo-se elevada atividade bactericida desta fosfolipase de cascavel. “Era capaz de destruir a membrana celular por quebrar fosfolipídeos de membranas”, constata.

Após o tratamento químico com a naringina, verificou-se que a atividade bactericida foi diminuída e quase inibida por total. Em outras palavras, a mesma proteína, depois de tratada, não mais destruía a membrana da bactéria. “Empregamos uma técnica complementar, chamada Espalhamento de Raios X a Baixos Ângulos (SAXS), para avaliar as modificações na proteína”, conta o químico.

Aparicio esclarece que entender tais processos pode, mesmo que não de imediato, colaborar para o desenvolvimento de novos fármacos. “Marcelo obteve resultados importantes que adicionam mais uma peça num intrincado quebra-cabeça. As estruturas obtidas permitiram formular novas hipóteses sobre o mecanismo pelo qual a fosfolipase de jararaca, BJVIII, exibia um inesperado efeito de agregação plaquetária.”

O propósito de estudar as duas proteínas, complementa Fagundes, emergiu do efeito de agregação plaquetária. Além disso, proteínas de serpente vêm sendo estudadas para bloqueio de sinais sobre os quais não se tem controle, em distúrbios neurológicos nos quais há passagem de um sinal muito amplificado. “Desta forma, os mecanismos de ação destas fosfolipases poderiam ser úteis na busca de algum mecanismo de bloqueio de transmissão nervosa indesejada nos sistemas biológicos.”

Carregadoras moleculares

De acordo com Santos, no caso da fosfolipase de jararaca, a BJVIII, verificou-se que existia uma molécula chamada ácido lisofosfatídico ancorada no sítio ativo, uma região importante da proteína. O curioso nesta descoberta foi que pela primeira vez notou-se uma molécula de um lisofosfolipídeo presa a uma proteína deste tipo. Isso sugere que o achado está ligado a um novo papel de ação dessa proteína, que atua como carregadora de moléculas que podem sinalizar para um efeito farmacológico.

Atribuiu-se, a partir desse estudo, o efeito de coagulação sanguínea e o efeito de agregação plaquetária não à proteína BJVIII, como se pensava antes, e sim à molécula que estava presa dentro da proteína para ser liberada somente no momento adequado, onde esta molécula iria atuar nas plaquetas induzindo a agregação plaquetária e iniciando a cascata da coagulação.

A função de uma proteína, por exemplo uma enzima, está diretamente relacionada ao modo como seus átomos se organizam em três dimensões. As proteínas são moléculas muito grandes – centenas ou milhares de átomos – formadas por pequenas unidades, chamadas aminoácidos, que se encaixam um após o outro numa sequência determinada por DNA, permanecendo unidos como se fosse um “fio”. Com os 20 aminoácidos comumente encontrados na natureza, os organismos vivos são capazes de gerar um número enorme de combinações.

Esse “fio” de aminoácidos se retorce de modo a gerar a estrutura tridimensional da proteína, na qual aminoácidos, inicialmente distantes na sequência, podem acabar ficando muito próximos quando vistos em três dimensões. Normalmente, dentre centenas de aminoácidos, apenas alguns poucos são responsáveis pela ação da proteína e, por isso, conhecer sua estrutura com precisão é essencial para entender seu funcionamento.


Quando os estudos de Santos foram iniciados, já existiam estudos farmacológicos utilizando várias técnicas que mostravam que esta determinada proteína que se classifica como a fosfolipase era capaz de atuar induzindo a agregação plaquetária. Acreditava-se que, em geral, a própria proteína teria potencial para fazer uma reação química e provocar mudanças que levariam a este efeito de agregação.

Em particular, Santos observou que não era bem assim. “O que a gente consegue observar, olhando a estrutura da molécula e da proteína, como um todo, é que há uma outra molécula pequenininha sempre ligada a esta proteína. Uma das novidades do trabalho está nessa nova hipótese de que a fosfolipase tem condições de atuar como um transportador de outras moléculas pequenas.” No caso da serpente, quando ela produz o veneno, também produz essa pequena molécula (muito pouco solúvel em água) que entra dentro da proteína. “A proteína do veneno transporta esta molécula que, uma vez liberada, é capaz de induzir a agregação plaquetária, relacionada à coagulação sanguínea, formação de coágulos na circulação e morte da vítima por embolia”, assinala Aparicio.

O complexo proteico

A Cristalografia por Difração de Raios X é hoje a principal técnica de escolha para determinar a estrutura das proteínas. Nela, as moléculas de proteínas são forçadas a se encaixarem de um modo muito bem ordenado – um cristal. Expondo os cristais aos raios X, consegue-se obter com precisão a posição dos átomos, revelando a estrutura proteica. Pode-se cristalizar a proteína sozinha ou junto com moléculas menores, que interagem com ela formando um “complexo proteico”. A Unicamp, através do Laboratório de Biologia Estrutural e Cristalografia (Labec) do IQ, implantado por Aparício e colaboradores em 2004, está entre as poucas instituições do país a oferecer infraestrutura e as capacidades necessárias para determinar estruturas de proteínas.

Além de sua importância em pesquisa básica, a cristalografia é essencial ao desenvolvimento de drogas. Elas geralmente são moléculas pequenas projetadas para se “encaixar” nas proteínas, interferindo em sua ação dentro da célula viva. Havendo um composto inicial, candidato à droga, e usando como guia estruturas de complexos proteicos, os átomos da molécula pequena podem ser modificados para aumentar sua atividade sobre a proteína de interesse.

A cristalografia pode ainda ser utilizada na determinação da estrutura das próprias moléculas pequenas sem a presença de proteínas, informação muito importante durante o estabelecimento de rotas para a síntese orgânica de compostos com atividade biológica.


Nessa direção, um importante adicional ao parque instrumental do IQ está em fase de aquisição com recursos do projeto temático da Fapesp “Biologia química: novos alvos moleculares naturais e sintéticos contra o câncer. Estudos estruturais, avaliação biológica e modo de ação”, coordenado pelo professor do IQ Ronaldo Aloise Pilli. O projeto deve desenvolver compostos com atividade contra o câncer. O novo equipamento, um difratômetro para monocristais de última geração, auxiliará na determinação da estrutura de pequenas moléculas e nos estudos de sua interação com proteínas. (Isabel Gardenal)

fonte:http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/abril2010/ju457_pag0607.php

Biodigestor aperfeiçoado na USP produz 40% mais gás combustível

Nilbberth Silva / Agência USP

Pesquisadores da USP e da Universidade de Gênova – Unigena (Itália) aperfeiçoaram um biodigestor para que ele produza, em média, 40% mais biogás a partir do esgoto que os aparelhos comuns. O equipamento também purifica o gás, fazendo-o gerar cerca de 50% mais energia e tornando-o mais parecido com o gás natural veicular (GNV).

Biodigestores são recipientes onde dejetos fermentam sob a ação de bactérias. Eles têm encanamentos para recolher os resultados do processo: adubo e o biogás, uma mistura principalmente dos gases carbônico e metano, principal componente do GNV. Na zona rural são alimentados periodicamente por dejetos de animais; mas podem ser usados em indústrias e receber esgoto processado por estações de tratamento. O tamanho do aparelho varia de acordo com a necessidade de combustível.

Os pesquisadores italianos testaram quais características aumentavam a produção de biogás para aperfeiçoar o aparelho e chegar a maior eficiência. A fermentação acontece em compartimentos de vidro imersos em água a 40° Celsius (°C) contendo o esgoto processado. Uma hélice agita os resíduos cinco vezes ao dia. E, no tubo de saída, um medidor quantifica a produção de biogás diariamente.

“Monitorando essa quantidade podemos identificar se as bactérias estão trabalhando bem, se a cinética de fermentação está sendo otimizada”, diz Ricardo Pinheiro, engenheiro agrônomo que ajudou a desenvolver o biodigestor em seu doutorado duplo na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP e na Unigena, supervisionado respectivamente pelos professores Maricê Oliveira e Attilio Converti.

Algas purificadoras
Os pesquisadores também acoplaram ao biodigestor microalgas que, para crescer, retiram do biogás o gás carbônico, aumentando a concentração de metano da mistura e com isso, o poder calorífico. O biogás comum apresenta geralmente um poder calorífico de 5.500 quilocalorias por metro cúbico (kcal/m³), enquanto o biogás purificado têm poder calorífico de 8.400 kcal/ m³ – um aumento de 52%.

As algas podem ser utilizadas para produzir ração para animais ou alimentar as bactérias do próprio biodigestor, já que são ricas em carboidratos.

“Há poucos trabalhos científicos sobre como otimizar o metabolismo das bactérias que fermentam os dejetos”, explica Pinheiro.
O biodigestor poderá ser instalado em estações de tratamento de esgoto, criadouros de suínos e fazendas. Os pesquisadores vêm desenvolvendo o aparelho há mais seis anos e ainda estão aperfeiçoando o sistema. A meta é que o produto seja patenteado até abril do ano que vem. Ainda não há previsão de quando o aparelho chega ao Brasil, nem quanto deve custar, mas Pinheiro pretende instalar o primeiro na USP.

Mais informações: (11) 3091-3690, (11) 8391-2171, email rpsolive@usp.br

fonte:http://www4.usp.br/index.php/tecnologia/18786-biodigestor-aperfeicoado-na-usp-produz-40-mais-gas-combustivel

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Na vanguarda das pesquisas em biocatálise-Unicamp


ISABEL GARDENAL

Projeto temático rende descobertas e artigos em revistas internacionais

Desde a década de 80, os químicos da Unicamp José Augusto Rosário Rodrigues e Paulo José Samenho Moran atuam no front das pesquisas em biocatálise no Brasil. Esta área se dedica ao emprego de micro-organismos para promover transformações químicas de produtos. Com esta tarefa, eles trabalham especialmente no desenvolvimento de novas metodologias relacionadas aos fármacos. Em dezembro último, por exemplo, os pesquisadores concluíram o projeto temático da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) denominado “Biocatálise em síntese orgânica”, que teve duração de cinco anos e foi coordenado por Rodrigues. O saldo foi altamente positivo, segundo os pesquisadores, não somente por servir aos propósitos de fazer avançar a pesquisa, mas pela finalidade social de capacitar alunos e beneficiar a indústria com novas descobertas. Em cinco anos do projeto, houve uma média de 15 publicações em revistas internacionais e, recorrendo às publicações sobre o tema desde a década de 80 então, foram mais de 50.

Quando iniciou, o projeto temático teve financiamento da Fundação no valor de R$ 500 mil, verba que permitiu comprar reatores e equipamentos para análise dos produtos gerados. “Ganhamos ainda um equipamento de infravermelho e um cromatógrafo gasoso, que vêm sendo utilizados por outros colegas do IQ e de outros institutos”, conta Moran.


O objetivo, conforme Rodrigues, vinha sendo produzir intermediários para realizar a síntese de fármacos. Esses intermediários trazem como característica a quiralidade. O fato de serem quirais, explica Moran, já os torna interessantes. “Isso porque o organismo somente aceita intermediários que sejam reconhecidos pelos nossos centros receptores. No caso de um racêmico, você praticamente terá duas substâncias de imagem especular e somente uma vai interagir com o seu organismo para promover o benefício”, afirma. A outra, prossegue ele, pode causar até efeitos tóxicos. Assim sendo, esses intermediários têm sempre centros quirais com a possibilidade de fazer “enantiômeros”, que são produtos que possuem imagem especular não-superponíveis.

Moran ensina que essas duas moléculas têm as propriedades das mãos que, apesar de aparentemente iguais, são diferentes, pois apresentam a relação de imagem especular não-superponível. “Se pegarmos uma luva da mão esquerda e colocarmos na mão direita, o que vai acontecer? Não vai servir. As luvas parecem iguais, mas não são. A ideia é que essas biotransformações produzam somente uma possibilidade. Nesse caso específico, ela somente produziria a mão direita, não a esquerda – apenas um enantiômero.” A finalidade seria produzir moléculas oticamente ativas. “Cada tipo de produto farmacológico precisa de um catalisador específico para realizar uma determinada reação. Por isso, temos tentado descobrir novas metodologias cada vez mais sofisticadas para a triagem de enzimas de interesse”, comenta Rodrigues. As metodologias desenvolvidas em geral buscam unir dois aspectos: alto rendimento e pureza óptica elevada.

De acordo com ele, trabalhar com novas metodologias implica executar reações não apenas em meio aquoso, mas também em meio onde o micro-organismo esteja imobilizado em um suporte. Isso é fundamental para estimular as reações de maneira contínua. E é o que a indústria deseja, diz. “Na reação em meio aquoso, o processo tem que ser feito sempre em ‘batelada’: faço uma reação agora, isolo o produto e o micro-organismo, o qual provavelmente não conseguirei utilizar novamente”. Quando em processo suportado, diferencia, “posso reutilizar o micro-organismo em reações sucessivas e sequenciais. Faço uma reação agora, retiro aquele micro-organismo que eu utilizei e coloco-o novamente para fazer uma outra reação, num novo ciclo de processo”.

Fármacos
Muitas das metodologias desenvolvidas pelos dois pesquisadores do Departamento de Química Orgânica do IQ podem ser utilizadas na síntese para produção de fármacos. Um exemplo disso foi que o grupo realizou a síntese de um intermediário na preparação do indinavir, droga empregada na terapêutica da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids), um inibidor de protease que teve a sua liberação para uso em 1996. O grupo teve ainda participação ativa na parte final da síntese do taxol, hoje o medicamento mais indicado no tratamento do câncer de próstata e de mama.

Rodrigues relata que essas metodologias já davam alguns indícios de que rumo seguir, pois a indústria já fazia algumas dessas transformações. No entanto, o grupo do IQ buscou criar metodologias servindo-se de outras rotas alternativas, abrindo mão dos reagentes químicos em prol dos reagentes naturais. As reações que normalmente são efetuadas através de reagentes químicos são substituídas pelas enzimas, que então fazem as biotransformações.

Como desdobramento do projeto temático da Fapesp, o professor Sérgio Marangoni, do Departamento de Bioquímica do Instituto de Biologia (IB), forneceu aos pesquisadores do IQ o veneno de serpente purificado. O material foi utilizado como um biocatalizador para efetuar transformações químicas. O aluno de mestrado do IQ Renan Augusto Siqueira Pirolla, inclusive, defendeu tese sobre a aplicação de fosfolipase A2 de veneno de serpentes em biocatálise, orientado por Rodrigues, e o conteúdo estará sendo publicado em breve. A expectativa dos autores é que a metodologia desenvolvida aqui possa ser utilizada não apenas como micro-organismo mas como enzimas contidas dentro do veneno da serpente.

Função social
Outra metodologia criada no Laboratório de Biocatálise e Síntese Orgânica foi publicada há pouco no livro Practical Methods for Biocatalysis and Biotransformations, recém-lançado e organizado pelos estudiosos John Whittall e Peter W. Sutton. Tanto Rodrigues como Moran assinam artigo que aborda a hidroxilação de dois compostos orgânicos – indano e tetralina, empregados na síntese de produtos farmacêuticos. Para ambos, a interação com vários especialistas somente tem a contribuir para a ampliação do tema. Também sempre que podem, eles acompanham eventos da área como o de Biocatálise e Biotransformação, além do Biotrans, que acontece na Europa a cada dois anos. “Esta é a oportunidade de apresentarmos os nossos resultados e conhecer outros”, destaca Moran.

Ele esclarece que a função social da pesquisa conduzida no IQ está na formação dos alunos e aplicação no setor produtivo. “Pretendemos realizar investigações com possível uso pela indústria, principalmente pelo setor farmacêutico”, diz. “Ao longo desses anos, tivemos a participação de alunos de iniciação científica, mestrado, doutorado e de pós-doutorado. Esses alunos hoje estão atuando como docentes em universidades que abriram recentemente concurso e muitos deles estão adentrando as portas das indústrias, todos praticamente trabalhando neste campo de biotransformação. Desenvolvemos aqui pessoas com treinamento para executar biotransformações e fermentações.”

O próximo passo estudado por Rodrigues e Moran é dar continuidade a esta linha de pesquisa, mas agora atuando com biocombustíveis. Dentro dessa área, deverão ser visibilizadas novas metodologias, tanto para produzir etanol como outros compostos de amplo uso pela indústria petroquímica, substituindo esses produtos por outros não-fósseis, ou seja, renováveis. “Os compostos preparados, biotransformados, são hoje considerados ‘química verde’. Todos esses produtos gerados não são derivados da indústria petroquímica. Trata-se de produtos politicamente corretos e cujo conjunto de diretrizes é voltado à redução do impacto ambiental dos processos químicos”, destaca Rodrigues.

Ao falarem de interdisciplinaridade, os pesquisadores do IQ acreditam que esta será a evolução natural e que a inter-relação com outros grupos de pesquisa da Unicamp, como o Departamento de Genética do IB e com a Faculdade de Engenharia Química (FEQ), poderão ampliar a discussão de temas como os biocombustíveis e as matérias-primas para substituir os produtos da indústria petroquímica.

fonte:http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/abril2010/ju457_pag11.php#

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Químico desenvolve material utilizado em eletrodos de células a combustível


ISABEL GARDENAL

Criar um novo material sólido para ser utilizado em eletrodos de células a combustível foi uma das proposições da pesquisa do doutorando Jean Marcel Ribeiro Gallo, defendida recentemente no Instituto de Química (IQ). Trata-se de um condutor de eletricidade baseado na estrutura de uma “peneira molecular”, que por sua vez é um importante material de suporte com uma grande área superficial a qual garante maior espaço para ocorrerem reações de interesse da pesquisa. Além do valor do invento, que busca a substituição das fontes de energia tradicionais por uma alternativa e sustentável, o trabalho revela-se a primeira experiência do Instituto num programa de doutorado de co-tutela. A parceria, neste caso com a Università del Piemonte Orientale, Itália, possibilitará a Gallo receber dois diplomas com o título de doutor em ciências. Na Itália, o certificado será expedido em poucas semanas.

Gallo relata que aproveitou ao máximo a permanência na Itália e que sua escolha recaiu sobre este país por uma conjunção de fatores, sendo talvez o mais forte o fato de ter ascendência italiana. Ele chegou em Alessandria, cidade que abriga aquela universidade, com algumas incertezas em relação à língua, pois havia feito apenas um curso básico no Brasil. Mas estava convicto quanto à escolha do tema que iria desenvolver, o que facilitou optar por uma pesquisa de envergadura, tendo como foco as células a combustível. Ganhou dois orientadores: a professora Heloise de Oliveira Pastore, atual diretora do IQ, e o professor italiano Leonardo Marchese, do Departamento de Ciência e Tecnologia Avançada da Università del Piemonte Orientale.

No estudo de Gallo, o novo material é descrito como um sólido cerâmico poroso. Ele possui poros de tamanhos muito precisos, capazes de selecionar moléculas, característica que herdou das peneiras moleculares. Mas também contém partículas condutoras de grafite que permitem o seu emprego como eletrodos na célula a combustível. Sobre esse material são depositados os metais que são os catalisadores, já devidamente descritos na literatura. “O fato de se usar especificamente estes catalisadores não foi descoberto por nós. O que é de nossa autoria é o material com o qual se fazem os eletrodos. Ele exibiu um desempenho maior (20% a 40%) do que o material comercial”, ressalta Pastore.

As células a combustível, informa o pesquisador, correspondem a baterias que, ao invés de serem carregadas na corrente elétrica, como aquelas dos celulares e dos notebooks, passam a ser alimentadas com combustível. Em sua pesquisa, o combustível adotado foi o metanol, cuja uso foi detalhado ao longo dos quatro anos de doutorado, “entretanto o etanol será o objetivo futuro do nosso trabalho”, esclarece. O etanol, o mesmo álcool presente nas bebidas alcoólicas e nos combustíveis dos postos de gasolina, se distingue do metanol por duas razões principais: é menos tóxico, apresentando menor risco de contaminação; e é produzido abundantemente no Brasil a partir da cana-de-açúcar.

Pastore aponta que a reação da célula produz gás carbônico (CO2). Por esse motivo, salienta que algumas pessoas têm questionado a sustentabilidade de tal sistema, já que emite um gás estufa, mas também ressalta que neste caso é um bioálcool. “Portanto, de uma certa forma é tão sustentável e renovável quanto o etanol usado nos veículos.”

Gallo chegou à avaliação da nova família de materiais cerâmicos, denominada por ele e seus orientadores “carbonos cerâmicos mesoporosos”, com medidas eletroquímicas baseadas na variação da voltagem, em função do quanto a célula deve produzir de corrente elétrica. A tecnologia das células a combustível não é recente, adianta. O primeiro boom sobre o assunto ocorreu na década de 70.

Existe inclusive o uso dessas células comercialmente, expõe o químico. “Não tanto deste tipo que trabalhamos. Embora já haja sistemas comerciais que estão sendo vendidos e instalados. Um muito difundido é o gerador de eletricidade de emergência da Universidade da Califórnia, relata o pesquisador. “Por outro lado, ainda será preciso avançar para substituir completamente os sistemas em uso atualmente.”

As intervenções na tese, segundo Gallo, partiam de ambos os orientadores e não raro discutiam a três o passo a passo do trabalho. Ele enviava alguns rascunhos efetuados na Itália para Pastore fazer suas próprias anotações, e vice-versa. Apesar de mais trabalhosa, a pesquisa valeu a pena na sua opinião e resultou em um “material duplamente qualificado”.

O químico garante que é inédita na Unicamp a investigação de células a combustível baseadas em etanol ou metanol. “Temos no Instituto de Física um grupo de pesquisa dedicado a estas células, porém alimentadas diretamente com hidrogênio. O nosso estudo envolve uma célula a combustível baseada em metanol como modelo para uso na direção do etanol.”

O custo final de uma célula a combustível desse tipo ainda não foi estimado, pois a produção ocorreu apenas em escala laboratorial. Os testes iniciais, feitos com metanol, indicam que a célula construída com o novo sólido para os eletrodos tem um melhor desempenho, particularmente em um dos eletrodos da célula a combustível. O uso no outro eletrodo precisará passar por um processo de otimização. “Após isso ainda será necessário determinar como fazer a célula funcionar com o etanol, o que é tecnicamente mais difícil, para então começar a pensar em comercialização. Uma coisa é certa: estudaremos o uso do etanol”, afirma.

fonte:http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/abril2010/ju456_pag11.php#

Metodologias detectam metais no etanol


Controle de qualidade do produto
pode ser realizado em até meia hora



JEFERSON BARBIERI


Pesquisa de doutorado desenvolvida no Instituto de Química (IQ) da Unicamp, com o apoio da Fapesp, chegou a três novas metodologias para o controle de qualidade do etanol combustível, utilizando a técnica de cromatografia de íons. Uma delas foi feita para a determinação de compostos aniônicos e as outras duas para íons metálicos, que incluem metais pesados e de transição. O trabalho feito por Jailson Cardoso Dias envolveu diferentes procedimentos de otimização, tanto da parte de separação cromatográfica quanto do tratamento dos dados. Num curto espaço de tempo, entre 20 e 30 minutos, há a possibilidade de determinação sequencial de até nove metais, incluindo a especiação do ferro, que foi considerada pela primeira vez em bioetanol. Outro objetivo desse trabalho é estimular o estabelecimento de novas normas para o controle de qualidade, não apenas no sentido de inserir novos analitos na legislação como também para desenvolver metodologias alternativas
simples e de baixo custo.

De acordo com Dias, a legislação vigente, que estabelece as normas do etanol combustível no país (resolução ANP nº 36, de 2005) relacionadas aos parâmetros de qualidade, contempla poucos contaminantes químicos. Portanto, ele acredita que o desenvolvimento dessas novas metodologias seja um avanço, especialmente para a determinação de substâncias potencialmente contaminantes que não constam da resolução atual.

No caso do ferro e do cobre, explicou o pesquisador, já existem especificações, porém por metodologia espectroscópica. Os métodos cromatográficos desenvolvidos por ele são alternativos, apresentando alta seletividade e níveis de detectabilidade semelhantes àqueles obtidos pelas técnicas espectroscópicas, da ordem de partes por bilhão (ppb), com a vantagem de injeção direta de amostra sem precisar de pré-tratamento. Outra informação que o pesquisador considera bastante relevante é o emprego de um novo reagente químico em cromatografia, o qual possibilitou a estabilização do ferro(II) no meio.

O processo de contaminação, não só do etanol como de combustíveis em geral, pode acontecer desde a produção até a estocagem do produto para o consumidor final. São várias etapas, daí a importância do controle de qualidade, sobretudo porque o Brasil atualmente não é apenas um produtor, mas também um grande exportador de etanol. “Esse controle, principalmente para a exportação, deve ser mais rigoroso com essa matriz energética”, afirmou Dias.

Parceria

O desenvolvimento do trabalho foi feito em colaboração com o Centro Australiano de Pesquisa em Ciência da Separação (Australian Centre for Research on Separation Science – Across), sediado na Escola de Química da Universidade da Tasmânia (Austrália).
Trata-se de um dos mais importantes na área de ciência de separação em geral, não só de cromatografia de íons, como de cromatografia gasosa e eletroforese capilar. Em 2009, Dias realizou um estágio de cinco meses recallnessa instituição, sob a supervisão dos professores Pavel Nesterenko e Paul Haddad, autoridades da área.

Para o orientador do trabalho, professor Lauro Tatsuo Kubota, essa é a primeira colaboração entre o Laboratório de Eletroquímica, Eletroanalítica e Desenvolvimento de Sensores (Leeds) do IQ e o centro australiano, reconhecido mundialmente como o melhor em cromatografia de íons. Sobre a importância da pesquisa, o orientador enfatizou que o trabalho tenta suprir as necessidades do dia-a-dia. A questão do bioetanol, segundo Kubota, é importante não só para detectar uma fraude ou a qualidade, mas também para a obtenção de mais detalhes sobre o produto. “Existem várias questões que ainda não estão bem estabelecidas”, afirmou.

Uma delas se refere à quantidade de zinco encontrada nas amostras de etanol combustível, e que não é um parâmetro estabelecido pela legislação, tanto nacional quanto internacional. O que será necessário agora é determinar de onde vem essa fonte de zinco e o que isso pode causar. “Não sabemos os efeitos da presença deste metal no etanol combustível nos motores automotivos”, observou Kubota. O docente ressalta que esse tipo de informação é importante para melhorar o biocombustível, não só em termos de qualidade como também no que diz respeito à produção, transporte e estocagem. E, segundo o pesquisador, todo o conhecimento do produto em si leva ao aprimoramento de toda a cadeia, desde a produção até o consumo. “Se ficarmos restritos às análises das legislações, perderemos o restante da informação”.

Com relação aos equipamentos utilizados na pesquisa, Kubota garante que são os mesmos que Dias utilizou na Austrália. A metodologia estabelecida é que é o diferencial. A estratégia é diferente. “Trata-se de uma linha de pesquisa ainda incipiente no Brasil, com muita coisa a ser feita”.

Segundo Dias, existem outros métodos cromatográficos descritos na literatura para a determinação de elementos metálicos, no entanto ele usou uma coluna cromatográfica especial. Atualmente, a melhor coluna cromatográfica comercial não permite utilizar etanol com injeção direta de amostra, porque ela é feita à base de látex, um substrato polimérico não resistente a essa matriz orgânica. A coluna utilizada por Dias é à base de sílica, que se mostrou bastante estável – mesmo com 100% de etanol, não apresentou problemas. Todos os métodos foram desenvolvidos para matriz etanólica. Essa é uma vantagem porque, em geral, os procedimentos existentes necessitam de um tratamento prévio da amostra, o que demanda muito tempo. “Nossos métodos são rápidos e simples. A corrida é feita e os resultados são sequenciais. É um dos melhores sistemas cromatográficos para íons metálicos que já foi desenvolvido até o momento”, ressaltou Dias.


fonte:http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/abril2010/ju456_pag09.php

terça-feira, 30 de março de 2010

São Vicente doa terreno a Unesp para o "Instituto do Pré-Sal"


Agilidade. Palavra que resume a entrega do terreno localizado na Avenida Francisco Bensdorp, na Cidade Náutica, para instalação do Instituto do Mar com ênfase em Pré-Sal em São Vicente em menos de uma semana. A assinatura da escritura definitiva que firma a doação do terreno por parte da Prefeitura à Unesp, em cerimônia realizada nesta terça-feira (30/3), à tarde, no Salão Nobre do Paço, comprova isso. Por iniciativa do deputado federal Márcio França (PSB), em parceria com a Universidade Estadual Paulista (Unesp), por intermédio do reitor Herman Jacobus Cornelis Voorwald, o novo instituto tem a finalidade de formar uma equipe de pesquisa e tecnologia com mais de 100 profissionais que sirva como referência em estudos do mar e do pré-sal em todo o Brasil.
Na ocasião, o prefeito Tercio Garcia aproveitou para ressaltar a importância da agilidade tanto do corpo técnico da Prefeitura, do cartório, bem como da Câmara Municipal, que aprovou em tempo recorde os trâmites burocráticos para a liberação de recursos em Brasília.
“No futuro, veremos nos jornais que estudiosos do Instituto do Mar em São Vicente darão sempre suas opiniões e ajudarão a tomar as decisões referentes a essas novas descobertas,” completou o deputado federal Márcio França.
O deputado informa que apenas depois de quatro meses de negociação, o Ministério da Ciência e Tecnologia autorizou o empenho de R$ 26 milhões no orçamento da União de 2010. A conquista se deu após reunião com o ministro Sérgio Rezende, o chefe de gabinete do ministério, Alexandre Navarro e a assessora especial Ana Gabas. A viabilização do “Núcleo de Estudos Avançados do Mar – Um Olhar para o Pré-Sal”, denominação oficial do instituto, é fruto de emenda apresentada em 2009 pela bancada dos deputados federais e senadores representantes do Estado de São Paulo, com projeto idealizado por Márcio França e pelo senador Aloízio Mercadante (PT).
Já o reitor da Unesp agradeceu ao prefeito Tercio e também ao deputado Marcio França por entender a importância do instituto. “Agradeço a todos pela rapidez e por entenderem que a Unesp vem para dar o máximo de seu conhecimento nesse passo importante na história deste País, com este instituto que será referência em todo o Brasil”. Ainda segundo Herman Voorwald, a intenção é que até o final do ano as atividades estejam em pleno funcionamento.
O presidente da Câmara de São Vicente, Paulo Lacerda, aproveitou para enaltecer a maneira com que o Legislativo tratou o assunto. “Quero agradecer aos meus pares por entender a importância desse ato histórico para a nossa Cidade”.
Estiveram também presentes à cerimônia, como representantes da Petrobras, o engenheiro naval Ricardo Migueis Picado, o consultor senior Elísio Caetano, o gerente setorial de Engenharia de Produção, Antônio Zedane, o tabelião Fernando Taveira, além dos vereadores Caio França, Diogo Batista, José Soares, Tiça, Valter Vera, Marco Bittencourt, Pedro Gouvêa, José Soares, Roberto Rocha e os secretários Jânio Banith (Governo) Tânia Simões (Educação), Brito Coelho (Turismo), Clóvis Vasconcellos (Comunicação), Leo Santos (Desenvolvimento Urbano e Manutenção Viária) e Renato Caruso (Cultura).

fonte:http://www.saovicente.sp.gov.br/noticias/visualizarnoticia.asp?ID=1608

segunda-feira, 29 de março de 2010

Químico investiga ação de herbicida líder de mercado

RAQUEL DO CARMO SANTOS

O Glifosato é hoje o herbicida mais usado no mundo. Apenas no Brasil, são consumidas cerca de 100 mil toneladas por ano, nas culturas de soja, cana-de-açúcar, café e cítricos, entre outras. Porém, são poucas as investigações sobre o mecanismo de ação do produto, principalmente da forma como o químico Flavio Bastos abordou em seu trabalho de mestrado apresentado no Instituto de Química (IQ). Ele analisou a ação do herbicida em água e determinou os parâmetros termodinâmicos de sua interação com íons metálicos como cobre, cálcio, zinco e alumínio. “A principal contribuição do trabalho é entender o comportamento do defensivo agrícola para propor o uso racional do produto. Não se trata de estimular a utilização, mas estabelecer parâmetros que determinem quais as melhores condições para se aplicar o produto, evitando assim seu uso de forma descontrolada e irresponsável”, explica Bastos.

Segundo o químico, os metais são micronutrientes essenciais às plantas e as interações entre eles e o herbicida têm, entre outras consequências, a menor disponibilidade destes minerais para a planta. Quando o produto é aplicado no solo, por exemplo, ele pode ser retido pelas moléculas ou eliminado. Neste último caso, pode ser absorvido pelas plantas, havendo grandes chances de vir a atingir os lençóis freáticos e causar sérios impactos ambientais. No caso de ser retido pelas moléculas presentes no solo, interfere negativamente no desenvolvimento da planta.

Uma série de fatores determina qual destes processos irá ocorrer e em que intensidade. Entre eles, a acidez do solo, a concentração do herbicida e a temperatura. “A combinação desses fatores é que vai definir tanto a eficiência quanto a fitotoxicidade do Glifosato na agricultura”, explica Bastos. Mas, a maior preocupação é com o uso inadequado do produto, que pode ocasionar uma eficiência menor que a desejada e levar o agricultor a utilizar uma quantidade maior que a necessária. Este aspecto aumenta ainda mais a sua presença no meio ambiente e se reflete em impactos ambientais maiores.

Como o Glifosato é classificado como herbicida não seletivo, ou seja, ataca qualquer tipo de planta e sua molécula interage fortemente com os íons presentes no solo, seu uso com outro tipo de defensivo agrícola, por exemplo, pode reduzir significativamente o efeito de um ou de outro produto. “Não existe consenso quanto aos mecanismos envolvidos neste processo de sua interação com os metais, por isso a importância de se entender melhor o comportamento do herbicida e avaliar as reações das quais ele participa”, esclarece Bastos. (R.C.S.)

fonte:http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/marco2010/ju455_pag08b.php#

domingo, 28 de março de 2010

Genética ajuda a preservar a Copaíba do Cerrado paulista

Antonio Carlos Quinto / Agência USP

Estudos realizados na Estação Ecológica de Assis (EEA) em São Paulo, cuja área é de 1.760 hectares (17,6 milhões de metros quadrados), avaliaram a diversidade genética e o sistema reprodutivo de uma espécie de copaíba (Copaifera langsdorffii). O trabalho realizado por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, traz subsídios para ações eficientes em relação à conservação e manejo da planta.

A copaíba tem propriedades medicinais e é utilizada na indústria de cosméticos. “Desde o século 17, o bálsamo extraído do tronco da planta é utilizado no tratamento de problemas respiratórios, e também como antiinflamatório e cicatrizante. Em cidades do sudeste do País, 100 mililitros (ml) do bálsamo envasado chegam a custar R$20,00. Mas devido à devastação que ocorre no Cerrado, a copaíba está em risco de extinção em diversos estados”, conta o biólogo Roberto Tarazi.

Entre os principais resultados da pesquisa está o que recomenda o número ideal de plantas numa determinada área. “Na EEA temos cerca de 57 árvores adultas em 10 hectares. Para que a planta sobreviva por mais cinco gerações sem os efeitos prejudiciais causados pelo cruzamento entre plantas aparentadas, o ideal é uma área mínima de 24 hectares com 137 plantas. Infelizmente são poucos os remanescentes de Cerrado em São Paulo que apresentam essa área mínima, o que torna o risco de extinção mais alarmante”, aponta o pesquisador.

Outra recomendação é que sejam implantados corredores ecológicos que conectem as áreas remanescentes do Cerrado, atualmente fragmentadas. “O primeiro passo para a instalação destes corredores seria respeitar a legislação, principalmente no que se refere à reserva legal e à mata ciliar. Outro passo é a recuperação dessas áreas e o uso de sistemas agroflorestais. Essas medidas auxiliariam na conservação do Cerrado e, consequentemente, da copaíba”, afirma o pesquisador, lembrando que a planta tem crescimento moderado e possui madeira de excelente qualidade, podendo ser usada em reflorestamento.

No estado de São Paulo, o Cerrado correspondia a 14% do território. Partes desta área acabaram dando espaço às pastagens (78%), à cultura de cana-de-açucar (26%) e às rodovias (19%), entre outras. “A área de Cerrado hoje corresponde a menos de 1% de sua distribuição original e sob formas de fragmentos isolados”, contabiliza Tarazi. A fragmentação do Cerrado levou à perda de habitat da copaíba e à redução no tamanho das populações, o que aumenta o grau de isolamento. “Outras consequências estão relacionadas à redução da diversidade genética”, aponta.

Aspectos genéticos
O pesquisador usou em seu estudo um marcador molecular do tipo microssatélite, conhecido como Simple Sequence Repeats (SSR). Este marcador é ideal para discriminar geneticamente cada planta, exatamente como se faz com os testes de paternidade em humanos. “Esta ferramenta nos possibilitou conhecer aspectos genéticos de como as famílias de plantas se organizam pela floresta. Ou ainda a distância que o pólen e as sementes da copaíba usualmente percorrem até se estabelecerem”, descreve Tarazi.

Os cientistas verificaram, entre outros dados, que a copaíba, como outras plantas, têm flores hermafroditas e possui a capacidade de se autopolinizar. “Mesmo tendo esta capacidade, muitas plantas dependem dos polinizadores, principalmente as abelhas, para cruzarem-se uma com as outras.”

Tarazi iniciou suas pesquisas em 2006. Em 2009 defendeu sua tese de doutorado Diversidade genética, estrutura genética espacial, sistema de reprodução e fluxo gênico em uma população de Copaifera langsdorffii, no Departamento de Genética da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba. O pesquisador contou com a orientação do professor Roland Vencovsky, do Departamento de Genética e com a colaboração do professor Paulo Yoshio Kageyama, do Departamento de Ciências Florestais.

fonte:http://www4.usp.br/index.php/meio-ambiente/18637-genetica-ajuda-a-preservar-a-copaiba-do-cerrado-paulista

LHC poderá revelar a matéria escura.(Título modificado)


Por Robert Evans
Em Genebra

A matéria escura, que os cientistas acreditam que forme até 25 por cento do universo, mas cuja existência nunca foi provada, poderá ser detectada pelo acelerador de partículas gigante da Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (Cern), disse nesta segunda-feira o diretor-geral do centro de pesquisas.

Rolf-Dieter Heuer afirmou em uma entrevista coletiva que alguma evidência da matéria poderá surgir até mesmo no curto prazo a partir do acelerador de partículas destinado a recriar as condições do Big Bang, o nascimento do universo ocorrido há cerca de 13,7 bilhões de anos.

"Não sabemos o que é a matéria escura", disse Heuer, diretor do Cern que fica na fronteira entre Suíça e França, nas proximidades de Genebra.

"Nosso Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês) poderá ser a primeira máquina a nos dar um insight sobre o universo escuro", disse ele. "Estamos abrindo a porta para a Nova Física, para um período de descobertas."

Astrônomos e físicos afirmam que apenas 5 por cento do universo é conhecido atualmente e que o remanescente invisível consiste de matéria escura e de energia escura, que formam cerca de 25 por cento e 70 por cento, respectivamente.

"Se formos capazes de detectar e compreender a matéria escura, nosso conhecimento vai se expandir para abarcar 30 por cento do universo, um enorme passo adiante", afirmou Heuer.

O LHC, a maior experiência científica do mundo centralizada num túnel subterrâneo oval de 27 quilômetros, está atualmente em atividade para, até o final do mês, colidir partículas com a maior energia já alcançada.

fonte:http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ultimas-noticias/reuters/2010/03/08/experiencia-do-big-bang-podera-revelar-a-materia-escura.jhtm